A festa de Celina

Com vários dias de antecedência, dirigiu-se Celina Figueiredo à Padaria Anchieta, a fim de fazer a encomenda de bolo e salgados para a sua festa de oitenta anos. Reuniria somente seus familiares para uma comemoração íntima sem muita badalação. Passar em brancas nuvens também não poderia, pois queria agradecer a Deus, em companhia dos seus, por aqueles anos bem vividos.

Celina era uma freguesa muito querida. Quando chegou à padaria, imediatamente foi atendida. Explicou que faria um pequeno encontro com a família, mas queria tudo de mais gostoso que a padaria tão bem produzia. Além de um bolo todo requintado, escolheu também os doces e salgados. Tudo acertado, Celina volta tranquila a casa.

Toda prosa já começa a avisar os familiares de sua encomenda para o dia seis de setembro. Queria todos os filhos com suas famílias neste momento de grande alegria por completar essa idade com saúde e dinamismo, pintando suas telas, fazendo suas poesias e ajudando na catequese da paróquia.

O que Celina não sabia é que os filhos já estavam organizando em segredo uma grande festa, num belo ambiente, e os convidados seriam, além dos familiares, todos os amigos que conseguiram contactar. Foram à padaria e desfizeram a encomenda, pedindo sigilo.

Chega o dia do aniversário e Celina, notando a demora da entrega de sua encomenda, foi pessoalmente à padaria certificar-se do motivo. Ela não aceitou a explicação recebida de que esqueceram a encomenda. Celina, na hora, nem se lembrou da boa educação que a caracterizava, de que seu pai era primo de Carlos Drummond, de que fora diretora do Instituto de Educação de Minas Gerais, que era uma pessoa muito querida no site Recanto das Letras e outras coisas mais. Deixou claro o seu descontentamento porque era uma freguesa antiga e não merecia esta desfeita, no dia de seu aniversário não teria nada que servir aos familiares etc. etc. E todas as atendentes, prevenidas, com um sorriso amarelo, pediam desculpas pelo esquecimento.

E, para não sofrer um infarto, Celina foi a casa desabafar com a família e arranjar uma outra solução. Prometeu que nunca mais iria colocar os pés naquele estabelecimento, tamanha a sua mágoa. Os filhos contemporizaram e se prontificaram a arranjar um restaurante onde fariam a comemoração. Que ela se aprontasse toda bonita que sairiam para comemorar.

Levaram então Celina para um salão ornamentado com todo o requinte. Numa grande mesa havia um bolo maravilhoso e finos doces. A música encheu o salão com a sua chegada e muita gente ali a cantar os parabéns! Foi uma festa de arromba que Celina quase infartou foi de alegria!

E, no outro dia, estava Celina na padaria a pedir desculpas pelas injustas palavras que soltou como desabafo.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 23/02/2013
Reeditado em 23/02/2013
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