MÃE, SAUDADES!

Era uma mulher que ensinava por provérbios e parábolas. De pouco saber livresco, possuía a sabedoria apreendida com as experiências da vida.

Olhar crítico, rosto sério, sensibilidade humana para distinguir o bem e mal. Não era dada a sorrisos, mas como sabia acolher! Tinha o coração e a alma nobres. Dizia-nos: "fazei o bem, não olheis a quem". numa atitude de verdadeiro amor ao próximo. Era o equilíbrio da família.

Era de sim ou não. Talvez, quem sabe, meias palavras não faziam parte de suas decisões. Não fazia jogo de  cena para agradar quem quer que fosse. Ajudava no sutento da casa e na educação dos filhos e da sobrinha que criava com a sua profissão de costureira. Uma das melhores que Camaçari conheceu até hoje.

Não era dessa cidade. Veio do sertão baiano- Candeal, onde meu pai, de descendência italiana a fisgou. E se fez a miscigenação do branco e da negra, gerando filhos mestiços. Sete. Todos paridos em casa, ano após ano. Amanetou. Criou. Educou. Liberdade vigiada, controlada. Pois:
"quem com porcos anda, farelos come". Por isso: "cada macaco no seu galho'.

Católica fervorosa, era da Legião de Maria uma de suas filhas mais devotada.
Saía em visitação aos mais necessitados com suas irmãs de irmandade. Era adepta incondicional do amor. dizia-nos:
"quem com ferro fere, com ferro será ferido". Por isso, nada de fazer  aos outros aquilo que não queremos para nós mesmos. Sábia mulher! Tinha uma visão espetacular de mundo e de pessoas.

Viu casar seus sete filhos e nascer  dezoito netos. Tornou-se, ao ser avó, mais  flexível. Aos netos já permitia o que aos filhos não concedeu. Contudo, a dor de ter perdido meu pai prematuramente, não lhe deu a chance de conhecer seu último neto e bisnetos.

Amou tanto essa terra, que voltou do leito do hospital para nela morrer, rodeada dos filhos, netas e a sobrinha que criou. Na casa onde cada tijolo foi colocado sob sua orientação, deu  seu último suspiro. 

A casa de minha MÃE, mulher sertaneja, guerreira, valente até o fim. Não chorou para se despedir de nós. Eu a vi ofegante. Apenas chegou e nessa mesma noite nos disse adeus. NÃO! Até mais MAINHA. Porque:
"O BOM FILHO À CASA TORNA".

Maria Luiza D Errico Nieto
Enviado por Maria Luiza D Errico Nieto em 24/03/2007
Reeditado em 24/07/2023
Código do texto: T424743
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