O BATISTA

Eu não o conhecia, mesmo assim o amei

Tive fé. E me abandonei

A todo custo...

Ele me deu uma missão

De cumprir minha vocação

Eu sou a voz no deserto

Ele me deu um sinal certo

Símbolo do meu cumprimento

Que o poder mais forte habita os fracos

Que amam quando sofrem

E todos os filhos verão bem

Que na luta entre Deus e homens

Quem pode mais é o bem

Eu tenho uma ferramenta, uma arma

Eu batizo com água

Eu vejo o resultado de meu trabalho

Eu vejo pessoas a salvo

Eu quero a vitória certa

Eu sinto que existe esperança

Eu sei que o remédio da fé

Faz cada um ser quem é

E mais do que se pensa!

Eu o vi e dou testemunho

Eis o meu testamento

Com o coração e o punho

Para revelar quem ele é

O Escolhido de Deus, Emanuel

Ao vir a mim, o céu se rasgou para vir o Espírito

Ao vir a nós, o coração se rasgará

para aceitarmos o Deus vivo

Moro no deserto

Para que todos tenham lugar certo

Uma vida eterna no coração do Pai

Moro no deserto

Para que nos corações

Brotem bosques

Pus minha cabeça a prêmio

Buscando melhor premiação

Não evitei, nem constrangi

Não me envergonhei, nem calei

Nem temi

Paguei amor com amor

Agradecendo a cruz de Nosso Senhor

Com a minha cruz

Eu sigo a pomba da paz

Aquela que nos faz ser mais

Eu sigo a paz-mansidão

Eu prego a paz humildade

Eu prego a paz-solução

Minha vontade é fazer a sua

Esta é minha glória

Esta é minha satisfação

Meu alimento é cumprir minha obrigação

Que o zelo da casa do Senhor sempre me consuma

Preferível é que eu suma

Para que ele aumente e cresça

Minha recompensa é a consciência de ter feito o que fiz

Em suma amar quem me amou

Querer o amor que me quis

O curso da vida a qual me propus é o percurso de muitos

Que se descobrem aprendizes de um brilho da vida

Em rascunhos de morte

Uma bússola aponta: Jesus é o Norte

E só terá sorte quem não amar a morte

Que se disfarça de vida

Por isso busco uma festa que não se encerra

Passarei o tempo que me resta

Investindo no que dura eternamente

Minha fé me diz que a verdade está bem perto

Que alguma coisa vai mudar para o lado certo

E que nascer de novo é preciso

Que para sempre o zelo das coisas do Senhor me consuma

Preferível é que eu suma

Para que ele aumente e cresça

Não sou uma voz eloquente

Só sou a voz do Clemente

Que grita sozinho e na dor

Eu vivo em meio a leões

Para resgatar os corações tementes a Deus

Sou a voz que clama no deserto

Na aridez dos corações

e dos ouvidos anestesiados

Para que a liberdade crie asas

Enquanto dela se diga

Morreu porque viveu o amor

Morreu porque amou a vida

Emito uma voz que grita renovação

Eu canto motivos para a ação

Eu lamento o passado e o presente

Esperando um futuro ausente

De expectativas salutares

Eu lamento um mundo que não se arrepende

E choro por cada homem

Pois todo ele é uma ovelha ferida, doente

Fugindo da dor e do medo

Eu choro, mas não me desespero

Porque eu tenho quem me espero

Eu confio em quem posso confiar

Eu faço uma prece e logo ele me atende

É sapiente aquele que extirpa a morte e abranda as almas

Bendito aquele que vem em nome do Senhor e de si mesmo

Porque o seu testemunho é mais verdadeiro

Ele é Deus e sofre enquanto homem

Ele é homem e ama enquanto Deus

Pelo seu sofrimento eu sei: o mundo inteiro será redimido

Só ele pode ser Deus, pois amou como nenhum outro

Amou-nos somente. Até o fim

Pelo seu amor revelará que Deus não é desumano

E nos ama tanto, que se entregou por tão pouco!

Não sou o Messias-Rei

Quem sou eu tampouco sei

Só sei que não sou aquele que é

Não sou o messias-sacerdote

Sou mensageiro da morte de um cordeiro perfeito

Não sou o Messias-Profeta

Mas tenho a Palavra Certa

Sou a voz que faz ouvir o Verbo

Seja bendito aquele que se disfarçou de pequeno!

Sejam malditos aqueles que se disfarçam de grandes!

Eu espero nele porque no céu me espera

Ele e eu somos sede e água

Ele é Absoluto e eu absurdo

Ele é abismo

E eu me lanço

Pois me abisma

Sou João Batista