AINDA PARA MARGUERITE DURAS

PUBLICAÇÃO NA NOITE DE 20 DE JULHO DE 2013

Triplamente és presença em mim, em três modos de seres presença em mim: dois modos estrangeiros, um familiar.

Como explicar-te em mim, Marguerite?

Como em mim explicar-te, Duras?

Deveras, não sei como explicar-te em mim, Marguerite Duras.

Não, não é verdade. Algo sei, algo sei, sim, de como existes assim triplamente em mim, mas, são mistérios que não me conto, que não me conto porque não me posso nem me devo contar.

Não tive olhos azuis, mas tive pretos cabelos (agora já não o são assim tão pretos); o chinês que conheci não tinha limusine e não cheguei da guerra com todas as marcas de Hiroshima na pele da alma, como tu.

Não me cheguei nunca, como tu que tu te chegaste muito em ti mesma, Marguerite; de como te chegaste em ti, testemunha teu olhar.

Eu aprendo contigo um tempo que não vivi, mas, é meu. É meu, Marguerite, triplamente meu, embora nada seja meu e nem me sei dizer porque nada, nada é meu; não o sei dizer, nem a ti nem a mim nem a ninguém.

Tenho-te comigo, no meu rosto devastado com o teu em ti, na dor cuja vastidão nunca me saberei explicar nem a ninguém.

Tenho-te na esperança que foi a de meu pai morto, comunista também como tu. Tenho-te na esperança que não me consigo, há muito, sentir.

Triplamente, Marguerite. Triplamente. E nada sei nem conseguiria dizer de uma, nem de duas, nem de três dessa tua tripla presença em mim. Não sou meu único mistério em mim, Marguerite. Não o sou, certamente não. Talvez fosse mais fácil se eu me fosse o único mistério em mim. Talvez.

Escrita na tarde de 20 de julho de 2013