Ao Mestre com Carinho

Falar de professores que passaram por minha vida é falar de ternura, carinho, amor e aprendizagem. Todos deixaram alguma marca, mas alguns foram especiais, inesquecíveis.

As lembranças são significativas e trago à tona, neste registro, as que mais marcaram minha trajetória de estudante.

Ingressei, aos 7 anos de idade, na Escola Estadual “Geny Rodrigues”, localizada em Campinas (SP). E conheci minha primeira professora, D. Henriete, uma senhora elegante e muito cheirosa, que ensinava com muito carinho. Hoje, chamamos isso também de paciência. E lembro que ela cantava muito com os alunos, no final das aulas. E, durante suas cantarolas, batia ritmicamente em sua mesa e animava a cada um nós. Com isso, motivava a sala a aprender a soltar a voz.

Todos os dias, ela colocava uma bela toalha em sua mesa. E um vaso com flores de plástico. E fazíamos o mesmo em nossas mesinhas. Eu amava colocar a toalhinha em minha carteira.

Ela era também uma professora que nos motivava a escrever. E grande conquista realizou com sua turma no trabalho de leitura de imagens. Desde pequena, eu já criava historinhas e cantava muitas canções.

Amava quando ela colocava tarefas na lousa. Com sua enorme régua, professora Henriete fazia linhas horizontais no quadro negro. Depois, escrevia caprichosamente sobre elas, sem levantar o giz da lousa até terminar a palavra. Como se fora mágica, o giz deslizava suavemente, sem fazer ruído, quase desenhando palavras, que ficavam para trás, que éramos capazes de decifrar sem dificuldade.

Até hoje sinto o aroma de seu perfume, vejo suas mãos com veias salientes e dedos enfeitados com anéis que eu acreditava serem de pedras preciosas. E nunca me esqueci de seu corte de cabelo todo alinhado, completando sua elegância.

Tempos se passaram e cheguei à 6ª série, hoje 7º ano. E conheci a professora Maria do Carmo, que lecionava Matemática e me apresentou números e fórmulas que eu não compreendia. Tinha receio de suas aulas, pavor até, pois nada entendia do que ela ensinava. E suas provas eram difíceis e eu as entregava em branco ou inventava contas para preencher o espaço. Por anos, sonhei com ela e suas provas. Grandes pesadelos. E repeti o ano letivo. Senti, na época, que manchara minha vida escolar. Mas, no ano seguinte, tive outra professora de Matemática, que nos levava à lousa para fazer os mesmos cálculos que, no ano anterior, não havia compreendido. E tive o prazer de conhecer a Matemática como amiga. Interessante que não me lembro do nome dessa professora que me ensinou tão bem. Ela se afastou no decorrer do ano, pois ficou muito doente, mas foi quem me ajudou a resolver os problemas com essa disciplina.

E foi no magistério, na Escola Normal “Carlos Gomes”, em Campinas (SP), em Didática, que me encantei com a professora Eliana, a baiana. Ela falava de um jeito rápido, delicioso de ouvir, e carregava muitos livros em sua sacola jeans, totalmente desbotada pelo uso. Tinha uma grafia nada bonita, mas me encantou sua forma de nos motivar para a leitura de livros, de nos fazer apreciar autores e pensadores pedagógicos, de nos levar a uma leitura crítica e totalmente voltada à aprendizagem e à autonomia literária.

Na faculdade, na PUC Campinas, tive a honra de conhecer o professor Jamil, de Filosofia, e de com ele conviver por dois anos. Católico, apostólico, romano, ele nos falava de Filosofia, fornecendo respostas sobre a vida e propondo indagações que o ser humano costuma fazer a si mesmo. Suas aulas transcorriam com tanta leveza, que nem sentia o tempo ir embora... E eu me aprofundava na leitura de muitos pensadores da história e amava fazer as avaliações e registrava as respostas com a alma. Passei, então, a me entender melhor a partir do estudo de muitos filósofos. Passei também a ter respostas para muitas questões que estavam guardadas em meu interior.

Hoje, sou professora. E carrego comigo um pouco da essência de cada professor que passou por minha vida e que deixou marcas que vejo como positivas, pois de tudo tirei uma lição –aprendi a escrever sem soltar a mão da caneta até concluir a palavra, aprendi a ser pacienciosa no ato de ensinar... Ensinar precisa ser com amor e dedicação.

Aprendi que Matemática é algo bom, com respostas certas e que, para ensinar com melhores resultados, é importante o fazer junto, desafiando o aluno em cada atividade de resolução de problemas. Tudo tem resposta!

Aprendi que ler é maravilhoso. Que conhecer as obras e decifrar os textos fazem crescer tanto a mente quanto a alma. Aprendi a ser crítica, a escolher minhas leituras, a apreciar talentos e a escrever meu próprio livro, a escrever minhas próprias histórias. Aprendi a criar personagens e a dar vida a eles.

Aprendi também que, mesmo na maturidade, há sempre coisas novas a aprender. E que, na filosofia da vida, podemos ser capazes de conhecer a nós mesmos. E que nossa história também poderá compor a história de outra pessoa e a de alunos cuja vida talvez tenhamos marcado com nossa presença!

Simone Andreazzi
Enviado por Simone Andreazzi em 23/10/2013
Código do texto: T4538035
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