O tempo e a saudade

Célia leal

Os anos lixaram a madeira, do banco à porta da cozinha

com a chuva, o sol, e o sereno a tábua, ficou bem lisinha.

Por muitas e muitas vezes , nele eu me assentava,

enquanto o meu coração, tantas vezes perguntava,

era um monte de porquês, quase sempre, num silencio sem respostas.

Da janela, lá no fundo do quintal, eu olhava as bananeiras,

que meu avô, não cortava, mesmo aquelas já inférteis,

Pois ele sempre falava, que melhorava a paisagem,

lá do fundo do riacho, observava e dizia,

que os olhos precisavam de conforto e aragem,

para nós que somos de casa, e os que estão de passagem.

Meu avô sentou-se comigo, naquele banco cansado,

segurando a minha mão, de olhar fixo no horizonte,

vivemos uma grande emoção, disse ele meu netinho,

o tempo tem uma imensa boca, do tamanho da eternidade,

vai devorando, tudo que passa, sem ter dó nem piedade,

o tempo, não tem pena de nada, mastiga rios, árvores e bichos

noites lindas e estreladas, tardes belas e bem quentes

tritura madrugadas frias, lua, sol, montanhas e crepúsculos

ele é o dono de tudo e espera pacientemente.

Engole todas as coisas, degusta nuvens e chuva fria.

ele consome as histórias, as dores e as alegrias.

as madrugadas e os sonhos, decisões que duram pouco

perto da boca do tempo, nesse tempo de sufoco,

sua garganta traga as estações, os milênios e ocidente

nada disso tem retorno, que nem a vida e a mente,

e nós meu neto, marchamos nessa mesma direção,

rumo a boca do tempo, desse tempo, sem noção.

meu avô, abaixou a cabeça, seus olhos tocaram nossas mãos,

as lágrimas, corriam soltas, pensei que fossem chuviscos.

Na verdade, eram gotas, gotas de lágrimas que corriam

Daqueles olhos cansados, de tanto observar o tempo

esse tempo malcriado, que está ao nosso serviço.

Meu pai, vestido de desanimo, bem tarde ele chegou,

O caminhão na frente de casa, parando ele encostou.

Minhas poucas coisas juntei, como se fosse para um ano.

Devagar eu enrolei, poucas, poucas coisas,

caderno, cartilhas já decoradas caixa de lápis de cor,

esqueci de mim mesmo, paredes paginas por paginas recordava,

dando asas a imaginação, em cada frase voava, olhando tudo,

como se desse um abraço, cada margem, cada linha e entrelinha,

desse grande livro, como se de mim tivesse ficado um pedaço.

Meu avô, perdido em pensamentos, na sombra do cafezal,

não chegou, nem liguei, boa viagem já tinha me desejado ontem,

falando-me sobre o tempo, tudo foi sensacional!!

Minha avó, coitada alheia, há muito, havia se despedido.

Prendi as lágrimas, na porta dos olhos ,

Meu pai, não viu o medo, em silencio na boleia Sentei,

com paciência, virei, naquela rua inclinada,

estreita rua da paciência, olhei, entre casas miúdas

que espichava-se preguiçosamente, morro a baixo,

tudo aquilo, ia ficando para trás, com saudade eu pensei,

mordendo aquele pastel, corado com vento dentro,

o soluço foi chegando , más lá dentro sufoquei,

aqui vou terminando, a história de um menino

que falou do seu avô, como se fosse ele, Divino.

Obs. Essa história poética, foi inspirada em um capitulo do livro "Por Parte de Pai" de Bartolomeu Campos de Queiroz, que fez parte de um trabalho feito e apresentado na Faculdade, no meu curso de pedagogia.

Amei esse livro, porque me identifiquei em muitas partes dele, foi um dos livros mais emocionantes que li. Amei! ou melhor foi um trabalho, muito prazeroso que fiz com esse livro.