Lembranças de infância

Muitas lembranças se esvaem no tempo. Muito de nós acaba perdido no esquecimento. Ou ainda deixamos de lembrar porque nos causa tristeza simples fato de nos fazer reviver momentos que não gostaríamos de trazer à tona.

Minha infância foi assim. Cheia de situações que se perderam no tempo. Cheia de dores de uma menina órfã que se sentia deslocada no mundo. Muito da minha infância ficou enterrado e eu faço questão imaginar que não passei por tudo aquilo.

Mas existem momentos em nossa vida, que Deus manda anjos pra nos guardar, guiar, cuidar e nos amar. Na minha triste infância conturbada houve anjos como esses. Há pouco tempo um deles voltou ao céu, à pedido do Criador. Provavelmente já devia estar fazendo falta no Paraíso...

Patriarca de uma família que me adotou, trouxe para minha vida a figura do pai que eu não tinha mais. Fez parte das lembranças que gosto de ter e sinto-me feliz sempre ao revisitá-las. O homem que me fazia sentar com ele à mesa, que tirava do meu prato [escondido, claro!] os legumes que eu não queria comer. E depois ainda me dava o doce de leite tão saboroso, pelo qual eu ansiava, se houvesse comido tudo. Quantas vezes isso acontecia e ele olhava risonho pra mim quando a madrinha [você precisa alimentar-se direito, pra crescer forte e inteligente!] vinha verificar se eu havia limpado o prato! Um olhar cúmplice, olhar de pai.

O homem engravatado, comprometido com o trabalho, amado pela família e muito querido por todos que o rodeavam, foi para mim um modelo a ser seguido. Construir uma família como a dele, seria, para mim, tudo pelo qual eu lutaria quando crescesse. E, mesmo sem eu ter plena consciência disso, hoje posso dizer que me orgulho da família que construí. O bom exemplo de instituição familiar estruturada fez com que eu trilhasse um caminho de sucesso.

Não vou dizer que tenho saudade do tempo de criança, porque eu e minhas irmãs sofremos muito. O que tenho saudade é do colo da minha madrinha, do carinho e do amor do padrinho, da convivência com o Michel, meu quase-irmão, das coisas dele compartilhadas comigo. Sinto falta dos momentos bons que todos da família me proporcionaram. A influência que eles tiveram em minha vida, na minha educação, foi primordial. Uma família que me ensinou que a vida pode ser mais fácil se você está rodeada de pessoas que a amam. Família que é e sempre continuará a ser um referencial para mim.

Acredito que o padrinho Flozino deve estar olhando-me lá do céu e dizendo a todos coisas sobre mim, principalmente nossa história de cumplicidade à mesa do almoço...