POR QUE A MINHA MÃE?

Deixando-a no hospital, segui para casa levando suas coisas: o relógio, a bolsa, as roupas e os chinelinhos. Não foi fácil deixá-la, mas não tinha outro jeito. Por tudo o que já sabíamos da doença maligna, agora era contar com a sorte. Alguns contaram também com a fé. E rezaram por ela. Bom, era o momento de se agarrar a todas as esperanças.

Eu acreditei que após a cirurgia ela voltasse pra nossa casa. Isso me permitia pensar no que viveríamos dali em diante, após “a grande lição”. Mas aquela conversa, no pré-operatório, era a despedida.

Em dois dias eu experimentava a pior dor da minha vida. O pranto da minha irmã, ao telefone, falava do fim (o fim de muita coisa). Bastou aquela ligação para eu sentir o chão se abrindo diante de mim. Aquela notícia não era verdade, eu não podia acreditar. Eu não queria que aquilo fosse real.

Este ano ela faria 70 anos. Penso numa imagem simpática, de cabelinhos brancos, rindo do mesmo jeitinho de sempre, um jeito único, próprio dela, e lamento o amor que as minhas filhas não tiveram dessa avó que seria mais mãe do que eu.

Não há um só dia em que eu não pense nela. Fico recordando suas histórias, suas falas, suas risadas de mulher feliz... não tinha muitos motivos para tanto riso, mas era superior aos infortúnios e mostrava-se contente com a sua condição.

Há em mim uma necessidade dela que ninguém pode suprir. A falta da minha mãe me deixou um vazio que jamais será preenchido. Nada pode ocupar o lugar que a ela pertence.

Foi há quinze anos... e há quinze anos eu tento entender e não consigo.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 08/04/2014
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