Perdão, minha mãe!

(Fecho os olhos e lembro de uma jovem senhora descendo pela praça: na cabeça um lenço coberto com um bonézinho, vestindo uma roupinha modesta, às vezes molhada de chuva e com lama nos pés pelo atoleiro na estrada, ás vezes com frio e doente, outras suada e coberta de poeira. O olhar baixo. Vergonha de passar no meio da praça assim tão desmanteladinha.

Cansada!

Porém maior que o cansaço, a preocupação. O marido doente, e três filhas pequenas que ficam em casa enquanto ela trabalha...

Quantos anos assim?)

Não minha mãe, ninguém sabe quantas noites tu não dormias,

choravas.

Ninguém sabe quantas vezes, mesmo doente

tu te levantavas e ias

pensando ser tuas últimas forças .

Ninguém sabe quantos dias!!!

Eu queria dizer o quanto fostes forte ,valente,

mas não conseguirei, embora tente,

pois não posso medir tua dor, tua batalha.

Há quem se volte e desdenhe tua luta

mas a estes não se vence com a força bruta

pra eles resta uma Justiça que não falha!

E eu filha ingrata, filha só filha,

rogo a Deus que nesta minha trilha

me brinde com o sobejo de tua fé.

Se há algo, mainha, que aprendi contigo

é que se não há remédio pra o castigo

mais fácil suporta-lo é.

Nada que eu te diga ou que eu te faça

poderia retribuir toda a tua graça

todo o teu cuidado, carinho e atenção

Por isso nesse teu diade festa

A única coisa que me resta

é, minha mãe, te pedir perdão:

Perdão pelas lágrimas que te fiz chorar,

pelas horas que te fiz passar

repetindo a mesma lição.

Pelos sorrisos que não te dei,

por todas as vezes que falhei

em te dar satisfação.

Por todos os incertos e inversos

até mesmo por esses versos

sem métrica ou alinhação.

Por todas as noites, todos os dias

em que eu não soube de dar alegrias

Perdão, minha mãe, por não pedir perdão!!!

Júlia Carrilho Lisieux
Enviado por Júlia Carrilho Lisieux em 11/05/2014
Reeditado em 22/03/2024
Código do texto: T4802967
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