Maria da Conceição

Em maio de 1924 nasce Maria da Conceição. Conceição, que segundo nosso Aurélio significa: A concepção da Virgem Maria - Imaculada Conceição.

A primeira das sete filhas mulheres do Sr. João Nunes e Dona Sebastiana.

Cresceu trabalhando sem conhecer o hábito da leitura e escrita, uma vez que, como a maioria das criânças da sua época, as oportunidades eram raras, considerando que o trabalho era prioridade nas plantações e nos estaleiros de fumo que seus pais cultivavam, no bairro da Barra em Minas Gerais.

Ainda Jovem, seus pais se viram na necessidade de se mudarem. E foi assim que, na companhia de seus irmãos e irmãs, se transferiram para o Bairro de São Bernando - Município de Delfim Moreira.

Na sua mocidade, conheceu seu primeiro pretendente, o moço violeiro Julio Ramos, não tendo sucesso neste primeiro relacionamento, por motivos de preconceitos da família.

Mais tarde viria a conhecer aquele que seria seu esposo, com o qual vivera por quase cinquenta anos, e conceberia 10 filhos.

Sempre fiel e trabalhadora, enfrentou todas as dificuldades que uma mulher de seu tempo tinha que enfrentar. Não havia trabalho na lavoura ou em casa que a fizesse retroceder.

Sendo que a maioria dos filhos tivera sozinha, sem ao menos contar com o auxílio de uma parteira, já que seu esposo estava na lida do cultivo de frutas.

Mas uma das maiores dificuldade foi quando o seu filho mais velho, após receber a cobrança de uma dívida, chegou em casa de madrugada na fazenda e anunciou ainda à porta, que iria por fim em sua vida.

Apavorada, abriu a porta e deparou com ele caido no alpendre, após ter disparado uma arma em direção ao coração.

Juntamente com seu marido, apesar de toda a dificuldade de locomoção, o socorreram, que por sorte sobrevivera pois a bala havia passado a um milímetro de seu coração.

A partir de 1964 veio a crise da lavoura de marmelo na região. Também por melhores condições de vida dos filhos, mudaram-se para a cidade onde Maria da Conceição deu prova mais uma vez da sua força.

Passou a lavar e passar roupas de amigos e parentes no rio Sapucaí, a fim de ajudar nas despesas da casa, enquanto seu marido trabalhava na colheira e/ou no roçado próprio e de terceiros.

Mulher de fé e perseverança, jamais deixou de ajudar a quem lhe pedisse ajuda, física ou espiritual. Por isso colecionou uma legião de amigos que a estimavam e a admiravam, ficando conhecida e chamada carinhosamente por todos por Dona Fia.

Em 1973, deixaram Minas Gerais e vieram para São Paulo, onde dois de seus filhos mais velhos há haviam arranjado emprego.

Mas as dificuldades não terminavam aí. Teve um de seus filhos envolvido com drogas e outro com consumo excessivo de álcool, vindo os dois a falecerem por estas razões.

Só quem perde um filho, pode transmitir a dor que uma mãe sente nessas horas.

Em 1992 seu marido aos 70 anos falece. Partiu com a missão cumprida de um marido, (não perfeito porque também tinha seus problemas com a bebida), mas que soube respeitá-la durante sua jornada de luta a dois.

Na primavera de 1999 aos 75 anos, Maria da Conceição deu por encerrada sua vivência entre aqueles que a amavam aqui na terra, deixando uma imensa lacuna nos nossos corações.

Aqui fica minha homenagem a esta mulher que tanto amou e foi amada, que caso estivesse viva teria completado 90 anos neste último mês de maio.

Mulher que, por determinação de Deus, foi designada para ser a minha MÃE.

Mesmo tendo passados 15 anos desde a sua partida, lembro-me de uma frase do amigo de infânica Magela, tentando me consolar: “Fique em paz, sua Mãe foi uma Servidora”.

Obrigado e Sua benção, “Dona Fia”.