COMPADRE HUGO

-COMPADRE HUGO-

A nossa convivência teve início na década de 50, quando alunos das Escolas Reunidas Cônego Francisco Lopes, aqui em Calambau . Nas peladas, na hora do recreio, e nas brincadeiras no largo da Matriz, hoje, Praça Cônego Lopes. Uma passagem que ele sempre me lembrava, da época, foi uma “briga” que tivemos no coreto, em frente à Igreja. Na “luta” consegui derrubá-lo, pois ele era mais gordinho. Assim que ficou de pé e veio ao meu encalço, parti em desabalada carreira pela Rua São José e ele, atrás, quase me pegando. Entrei na casa da minha avó Augusta (onde é hoje a Escola Pe. Vicente) e fechei rapidamente a porta para que ele não entrasse. Ríamos muito quando lembrávamos desse fato.

Na juventude, ele trabalhava com seu pai no comércio e na máquina de beneficiar arroz.Depois foi para Uberlândia, onde trabalhou no Departamento de Estradas de Rodagem- D.E.R.-MG, por algum tempo. Voltando a Calambau , foi administrar a fazenda de seu pai na Boa Esperança. Nessa época começou a namorar a comadre Zelinha. Saia a cavalo de Boa Esperança, e ia até Venda Nova,divisa com Piranga, onde ficava a fazenda dos pais da namorada. Lembro-me de ter dado a ele a dica de como chegar lá, fazendo o trajeto Três Barras, Ponte Alta, Cachoeira do Jurumirim, Quenta Sol, Simeão, Venda Nova. Ficou noivo, veio o casamento e continuou morando na Boa Esperança.

No início da década de 60, Hugo adquiriu o bar que foi de seu pai, Joaquim Peixoto Quintão, o Caquim. Nessa época passou a morar em Calambau . Com a nova profissão e com a ajuda de sua esposa Zélia, dedicou-se ao trabalho procurando cativar a freguesia e oferecendo bons serviços. Lembro-me quando ele comprou a primeira geladeira em Porto Firme (daquelas grandes que faziam sorvetes e picolés). O meu pai, Zé Carneiro, foi buscá-la em seu caminhão. Como a estrada na época era muito ruim, assim que o caminhão parou em frente ao seu bar, a geladeira desmontou-se, pois já era bem usada. Levou algum tempo para reformá-la, até que ficou novinha. Tal fato, também, quando lembrado, era motivo de muito riso.

Desde o início da nova atividade, procurou cativar os fregueses. Dispensava um tratamento especial às crianças, mantendo com todas uma grande amizade.

O casal, também, participou do Cursilho da Cristandade, incentivado pelo Padre Theóphilo. Juntamente com outros casais cursilhistas, do quais minha esposa e eu fazíamos parte, tivemos muitos momentos alegres nas reuniões e congraçamentos.

No “Bar do Hugo” trabalharam vários jovens de nosso município que com ele, além de aprenderem o valor do trabalho, aprenderam, também, o quanto era importante o bom atendimento aos fregueses. Há pouco tempo, um seu sobrinho, hoje empresário em São Paulo, emocionado, me dizia de sua gratidão para com o compadre Hugo,que lhe ensinou as lidas do comércio e, principalmente, o trato com os fregueses, quando trabalhou em seu bar.Parabenizei esse rapaz pela gratidão ao seu tio pois, nos dias atuais, quase não se vê essa grande virtude.

Para coroar a nossa amizade, o casal Zélia e Hugo, convidou-me para ser o padrinho de batismo de sua filha Joelma, o que muito me honrou.

O seu bar sempre foi o “ponto” de Calambau , pois para ali convergiam as discussões sobre política, esporte e acontecimentos sociais.

Participamos, várias vezes, com os amigos, das famosas galinhadas no bar de Hugo. As galinhas assadas ou fritas, acompanhadas de uma farofa de miúdos, eram saboreadas com grande prazer. Isso acontecia, geralmente, à noite e eram acompanhadas de cerveja e um bom papo.

Nós, os funcionários da Minascaixa, todos os dias, tínhamos contato com o compadre Hugo, pois era ele quem nos fornecia o lanche. A sua chegada era sempre recebida com alegria por todos.

O legado maior que ele nos deixou foi a sua dedicação à família, ao trabalho, a amizade com todos e, principalmente, a sua honestidade. Na verdade, os bens materiais passam, mas os bons exemplos permanecem.

Descanse em paz meu amigo!

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Calambau , junho/2014

Murilo Vidigal Carneiro

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 24/06/2014
Código do texto: T4856537
Classificação de conteúdo: seguro