= Beatriz =

Quando eu tinha uns sete, oito anos me apaixonei perdidamente por Beatriz.

Beatriz não era atriz, mas poderia ser tão bela era.

Era minha professora. Quem me ensinou a ler e escrever.

Adorava-a. Perto dela me sentia no céu.

Assistia embevecido suas aulas.

Era um amor puro, de criança, despido, isento de malícias.

Respeitava-a como respeitava minha mãe ou a uma santa.

Sofria nos dias em que por algum motivo ela não vinha.

Respeitava e gostava também das substitutas, mas era diferente.

Convivemos no ambiente escolar até meus doze anos.

Nessa época minha família precisou mudar de cidade.

Sofri por ter que deixar minha cidade, outros familiares, meus amigos...

Mas sofri mais por ter que separar-me da minha querida professora Beatriz.

Depois da nossa despedida nunca mais a vi.

Tempos depois fiquei sabendo que ela também tinha ido morar numa

cidade do interior do Paraná.

Ainda ecoam em meus ouvidos suas palavras na despedida...

“ - Beto, nunca deixe de estudar. Você é um menino maravilhoso, inteligente, sempre foi meu melhor aluno. Você será um grande homem, tenho certeza absoluta disso. Jamais se perca de você.”

Abraçou-me e beijou-me e deu-me de presente um texto.

“ - Leia esse texto com atenção. É o meu favorito. Se não entendê-lo agora, guarde-o e leia-o daqui alguns anos.”

Chegando em casa li e encantei-me.

E volta e meia o relia.

Com o passar dos anos fui entendendo-o melhor.

Aplicando em minha vida os ensinamentos nele contidos.

Passou a ser como que um Manual de Instruções de Vida para mim.

Ainda hoje o guardo comigo. Nem preciso ler, pois tantas vezes li

que o decorei.

Guardo-o como um dos mais belos presentes que ganhei em toda

minha vida.

Professora Beatriz, onde quer que a senhora esteja hoje, saiba que

terás eternamente meu respeito, amor, admiração e carinho.

De coração e alma, muito obrigado.

O texto de que falei é:

“DESIDERATA”

Por Max Ehrmann

“Siga tranqüilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se que há sempre paz no silêncio. Tanto que possível, sem humilhar-se, viva em harmonia com todos os que o cercam.

Fale a sua verdade mansa e calmamente e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes – eles também têm sua própria história.

Evite as pessoas agressivas e transtornadas, elas afligem nosso espírito. Se você se comparar com os outros você se tornará presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você. Viva intensamente o que já pode realizar.

Mantenha-se interessado em seu trabalho, ainda que humilde, ele é o que de real existe ao longo de todo tempo. Seja cauteloso nos negócios, porque o mundo está cheio de astúcia, mas não caia na descrença, a virtude existirá sempre.

Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui e mesmo que você não possa perceber a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.

Muita gente luta por altos ideais e em toda parte a vida está cheia de heroísmos.

Seja você mesmo, principalmente, não simule afeição nem seja descrente do amor; porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto ele é tão perene quanto a relva.

Aceite com carinho o conselho dos mais velhos, mas seja compreensível aos impulsos inovadores da juventude.

Alimente a força do Espírito que o protegerá no infortúnio inesperado, mas não se desespere com perigos imaginários, muitos temores nascem do cansaço e da solidão.

E a despeito de uma disciplina rigorosa, seja gentil para consigo mesmo. Portanto esteja em paz com Deus, como quer que você O conceba, e quaisquer que sejam seus trabalhos e aspirações, na fatigante jornada da vida, mantenha-se em paz com sua própria alma.

Apesar da falsidade, dos desencantos e agruras, o mundo ainda é bonito, seja prudente.

Faça tudo pra ser feliz.”

Por Max Ehrmann

=Roberto Coradini {bp} =

18//07//2014