Compartilhando neste dia da árvore, dos mais belos poemas que já li, de autoria da  grande poetisa chilena Gabriela Mistral, Premio Nobel de Literatura de 1945.

HINO À ÁRVORE

"Árvore irmã que bem cravada
por ganchos escuros ao solo
a clara fronte levantaste
numa sede intensa de céu.

Faz-me piedoso para a escória
de cujos limos me mantenho
sem que se adormeça a memória
do país azul de onde venho.

Tu que anuncias ao viandante
a graça de tua presença
com ampla sombra refrescante
e com o nimbo de tua essência;

faze com que a minha presença
revele, nos prados da vida,
dúlcida e cálida influência
por sobre as almas exercida.

Árvore criadora dez vezes:
a que tem frutos cor de rosa,
a de madeira construtora,
a de zéfiro perfumada,
a de folhagem protetora,

a de bálsamos suavizantes
e a de resinas milagrosas
repleta de pesados ramos
e de gargantas melodiosas;

torna-me doador opulento,
faze-me como tu fecundo:
o coração e o pensamento
me sejam vastos como o mundo.

E todas as atividades
não cheguem nunca a fatigar-me;
as magnas prodigalidades
surjam de mim sem esgotar-me.

Árvore, em que é tão sossegada
a pulsação do existir,
e vês meu alento a agitada
febre do mundo consumir;

faze-me sereno, sereno,
dessa viril serenidade
que deu aos mármores helenos
o seu sopro de divindade.

Tu que não és outra coisa
que doce entranha de mulher,
pois cada rama guarda airosa
em cada leve ninho um ser,

dá-me ramagem vasta e densa,
tanto quanto hão de precisar
os que no bosque humano imenso
não tenham lenha para o lar.

Árvore que onde se levante
teu corpo cheio de vigor
assumes invariavelmente
o mesmo gesto protetor;

faze que ao longo dos estágios
da vida, no prazer, na dor,
minha alma assuma um invariado
e universal gesto de amor".



(*) Tradução da poetisa brasileira Henriqueta Lisboa.

(**) Gabriela Mistral nasceu no Chile em 7 de abril de 1889. Viveu alguns anos no Brasil,em Petrópolis, RJ, durante a segunda guerra mundial. Em 1945, recebe o Prêmio Nobel de Literatura, o primeiro Nobel concedido para um autor da América do Sul. Faleceu em Nova York, em 11 de janeiro de 1957. Considerada a grande poetisa da misericórdia e da maternidade adotiva.