Trilhos e Prosa
Em conversa com amigos,
lá no Bar do Seu Rodolfo,
fui enredada pelo encanto do acervo sucateado da Noroeste do Brasil.
Pude ouvir de cada trilho arrancado
um tanto de poesia.
Dos tijolos descascados, partes de uma história.
O cardápio do lugar despertou-me janelas inconscientes:
Tinha o mesmo cheiro do bife acebolado que exalava
das casas abertas ao passar pelas estações
Piraputanga, Aquidauana, Miranda, Corumbá...
– Parecia que os trilhos eram atraídos para o almoço.
Os clientes do bar pegaram o mesmo trem que eu.
Uns destravaram as janelas:
– Dê-me um milho verde!
– Uma pamonha! – Um peixe frito!
Só de lembrar dá uma saudade...
Vinha gente, ia gente...
Ia gente, vinha gente...
Embarcavam no trem:
Peões, donzelas prometidas, mascates, retirantes,
Fazendeiros, meninos de suspensórios,
meninas com seus vestidos em goma.
Todos em busca de sonhos, vantagens e possibilidades.
Havia compilação de culturas, sotaques e erva-mate.
As estações permitiam em meio aos bancos de madeira,
o vai e vem das malas, o tira e põe do chapéu suado,
o chuc-chuc das saias de tafetá.
Chegava outro trem,
trazia consigo negócios e também muita saudade.
Levava de volta, para além das fronteiras do cerrado,
uns outros que com bilhetes a postos
se acomodavam...
e se iam mais vagões
lotados de trilhas humanas...!
Joísia Góes Costa 30/7/2014