Ao Aedo

Não é fácil acordar palavras. Fazê-las abandonar o calor da alma. Tão bom o sonolentar dourado, a alma em lassidão... Um ninho doce e quente, um cobertor de sonhos... é até um crime largar. Mas, o que fazer com um telhado de telhas de barro, um gato que espera, tantos ramalhetes de flores entregues nas primeiras horas da manhã? Folhear a alma e procurar encontrar um poema que faça jus às primeiras páginas das janelas abertas da vida. Palavras que garlem o céu espalhando completudes, luz e amor. E... que se alcem em novos milagres de descobertas, descobertas de si mesmo e do outro que vive em nós...

Na fala do ensejo

na ânsia das letras

por maior anelo

não pode enunciar.

Dizer a emoção

àquele que sabe,

podia vogar.

E prende a voz

tornando-se algoz

em estertor atroz

de dizer incoerente.

E colhe o terror

de águia melindra

que sem arribar

não fende mais asas,

não lumina lugar.

Mas fala o ditame

em clamor de alentar:

- Aedo tu és!

Te ergue aguerrida,

busca com afã...

Não estás sozinha.

Compõe a poesia,

conquista tua lume.

E sente a dor

que brota lugente

do ato provir

no átrio afanoso

do desabrochar

constante da rima.

E nasce loquaz

a poesia, o amor -

vibrante negaça -

estonteante esplendor.

Dedicado à José Kappel

Maria
Enviado por Maria em 20/10/2014
Reeditado em 28/08/2022
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