homenagem à menina Luisa

Só uma criança explica, quando nem os Deuses podem fazê-lo – em busca do prefácio.

Escrever não é uma arte, mas um exercício permanente; exercitar-se na escrita é transformá-la em arte. Onde o paradoxo? Não sei se existe. Pascal dizia que a última coisa que se decide ao escrever um livro é o que se deve colocar primeiro.

O escritor, muitas vezes pensa um tema, desenvolve-o mentalmente e, quando resolve escrever, as palavras compõem as frases com extrema facilidade; naturalmente, quanto maior o espírito, maiores as paixões. (1) daí, o interesse de se contar os casos, as histórias vivenciadas e as grandes paixões.

Muitos profissionais de sucesso procuraram registrar suas experiências, colocando em livro observações curiosas; muito me agradaram os Retalhos da vida de um médico (2) e outros como o neurologista Oliver Sacks, que escreveu um livro sobre casos curiosos da neurologia, dando-lhe um título infantil: “O homem que confundiu sua mulher como um chapéu” (3) em que conta histórias excêntricas, que acompanhou na vida clínica. Lembro-me de ter falado a Alfredo Tranjan – você deve colocar sua experiência dos tribunais em livro, pois, será uma contribuição importante ao imaginário do Direito; assim nasceu “A Beca Surrada” (4) contando as histórias bizarras de meio século no foro criminal. Como Namora, Sacks, Tranjan e tantos outros, Jorge Gomes, médico de sucesso, com seu espírito crítico e observador, escreveu vários livros, que vêm refletindo sua caminhanda junto às centenas de pessoas que buscam ouvi-lo. Assim, nasceram muitos de seus livros, dos quais destaco “Religião: O nó Crítico – dedicado aos descrentes, hereges, agnósticos, ateus e aos que ousaram pensar e mostrar a cara de forma materialista dialética”.

Retorno a Pascal sem comentá-lo: “ O homem é naturalmente crédulo, incrédulo, tímido, temerário”. Deixo o Século XV e retorno ao presente, e volto a falar de Jorge Gomes e do seu mais recente livro movido pela paixão, ratificando Pascal – “Quanto maior o espírito, maiores as paixões” (1) – daí, Luisa: Nem os Deuses Explicam.

Lembro-me de uma reunião no auditório do Bangu Atlético Clube, com plenário composto de um grande número de pessoas de todas as idades, em que falando sobre a Cosmogênese de 12 bilhões de anos atrás, passando por Hiroshima e Nagasaki, chegando ao 11 de setembro, Jorge coloca um vídeo, onde um anjo moreno, de sorriso resplandecente leu um texto do Pastor Martin Luther King (5)) Premio Nobel da Paz de 1964 – era Luisa, que em toda sua graça repetia: “Quando permitirmos o sino da liberdade repicar em todas as moradias e vilarejos, em todas as cidades, será o prenúncio de que todas as crianças de Deus, homens, independente da cor da pele, raça e credo, poderão dar-se as mãos e cantar o velho spiritual negro: Livre afinal, Livre afinal. Era o milagre da palavra, era o milagre de Luisa, era a vitória do Pastor vitimado pela incompreensão dos seus conterrâneos em 1968.

Luisa, a filha de Lucia e Jorge Gomes guarda um nome importante na história das mulheres, tendo servido de inspiração a historiadores, poetas, e compositores. Lembramos o papel importante de Luisa da Áustria, que se tornou Imperatriz ao casar-se com Napoleão; também lembramos outras Luisas, como a que inspirou Tom Jobim para uma das mais belas músicas brasileiras. Não esqueço a Luisa cantada em poema de Carlos Drumond de Andrade, que transformou um poema em notícia de jornal, ou o contrário.

Roga-se ao povo caritativo desta cidade

Que tome em consideração um caso de família

Digno de simpatia especial.

Luisa é de bom gênio, correta, meiga, trabalhadora, religiosa.

Foi fazer compras na feira da praça.

Não voltou.

Levava pouco dinheiro na bolsa.

(Procurem Luisa)

De ordinário não se demorava.

(Procurem Luisa)

Namorado isso não tinha.

(Procurem. Procurem)

Faz tanta falta. (6)

O Livro de Jorge é todo amor e poesia; eu o louvo e recomendo àqueles carentes de afeto, aos que não têm coragem de declarar seu amor e até aos que não se amam, ou mesmo aos que se odeiam, pois, como diria Pascal, o paradoxo é necessário.

Volto a pedir ajuda a um poeta consagrado em seus belos versos, que me ajudam a concluir a idéia:

Regresso ao Lar (7)

Há quanto tempo não escrevo um soneto

Mas não importa: escrevo este agora,

Sonetos são infância, e, nesta hora,

A minha infância é só um ponto preto. 2

E após esses breves comentários comemorando um livro e homenageando a Lucia, Jorge – o autor, sua querida homenageada e sublime inspiração do livro, dedico um poema à pequena Luisa:

Poema para Luisa

Como a flor que encanta um jardim,

Compondo um cenário de beleza e paz,

Segue Luisa colorindo a infância,

Fazendo muito, por quem muito faz;

Mostra caminhos do mundão sem fim,

E alegria em vez da intolerância,

Verdade, Amor, Paixão e muito mais:

Um hino à vida junto de seus pais!

abrantesjunior – agosto de 2008

1) Pascal B. – Matemático e Filósofo -1623-1662

2) Fernando Namora – médico e escritor

3) Oliver Sack – The man who mistook his wife for a hand - 1970

4) Alfredo Tranjan- Advogado – A Beca Surrada - 1994

5) Luther King M – 1929-1968

6) Carlos Drumond de Andrade - Nova reunião – Novos Poemas , José Olympio Editora – RJ. 1985, pág.230.)

7) Campos A – Livro de Verso – 1ª edição, Lisboa, 1993, pág.349)