Histórias Reais de Brasileiros Nato! Labor em uma UPA

Pela Prefeitura Municipal de Porto Velho/RO, durante três anos eu fui lotado na Secretaria Municipal de Saúde. (no presente momento, eu me encontro em outra Secretaria do poder público do estado). Nesse período - três anos - eu fui Lotado pela em uma das UPA's 24hs (Unidade de Pronto Atendimento - 24hs).

A ordem da Secretaria foi a seguinte: "Fábio, precisamos urgente dos seus serviços na UPA... sua missão é: ir lá e ajudar a apagar um 'incêndio' (a expressão fora usada para se referir a uma urgência no setor), depois você retorna. Confiamos em você, jovem!" Disse meu, então diretor. (Sem citar nomes).

No dia seguinte, lá estava eu me apresentado como novo funcionário daquela UPA. Cujo quadro de funcionários e plantonistas era - quando eu trabalhei lá - de cerca de 150 funcionários.

Durante quase um ano eu laborei lá, contribui para um dos setores mais carentes da sociedade pelo governo.

Quando eu solicitei minha re-lotação à Secretaria (devido às minhas aulas à noite, na IESF/UNIR coincidirem com os plantões noturno), muitos dos colegas estimam a minha ausência, até hoje. São eles, toda uma equipe inteira de médicos, enfermeiros, técnicos, odontólogos, farmacêuticos, assistentes social, administrativos, e diretores com quem eu trabalhei e... até mesmo pacientes sentem a falta da minha presença, como funcionário. Até hoje. Eu poderia dizer que naquela UPA nós éramos uma grande família. Eu sinto muita falta de todos eles. E do Setor também.

Algo que torna muito gratificante a nós, nada tem haver com ganho salarial, mas sim, pelo empenho e dedicação que você, literalmente, se doa à Saúde. (modéstia parte, eu falo por mim). Ao bom serviço desenvolvido sem ganhar nada a mais por isso.

É fácil perceber quando você doa parte de si, a uma causa justa, aos humildes e necessitados: não tem preço - no mundo! - que lhe pague.

O sentimento de gratidão que é percebido no semblante do paciente, quando encerra-se seu pronto-atendimento com sucesso. Isso que move o coração da gente, e faz pulsar vida e dar impulso para o bem.

Muitos foram os plantões noturno... passar a madrugada atendendo pacientes.

Inclusive em noites de Natal e Ano Novo. E nós lá... na UPA 24hs, com pacientes chegando a toda hora.

Dentre os milhares de pacientes, lembro-me de muitos daqueles que iam à UPA, com certa frequência.

E também aqueles casos especiais, e dos dias de grande fluxo de pacientes chegando a todo instante...

Casos e dias especias dos quais nós jamais esqueceremos. Esses foram muitos... mesmo.

O caso de um certo senhor eu gostaria de compartilhar com meus leitores. Tanto que, toda noite de sábado, volta e meia... eu lembro com muita estima daquela pessoa.

Aconteceu em um plantão noturno (três vezes o mesmo paciente), já pela madrugada... noite de sábado para domingo.

Nas três vezes ele chegou ao pronto-atendimento, visivelmente, alcoolizado - mas, não violento.

Tranquilo até, apenas não dizia "coisa com coisa..." ele ficava na entrada do SAME por um tempo, em seguida, ia embora.

Ele não chegava a perturbar o atendimento, logo ia embora, tão discretamente... que nós, funcionários, praticamente, nem percebíamos.

Quando na terceira vez que eu o vi chegar, e novamente, em um plantão noturno em um sábado, conversei com uma colega que retornara do repouso noturno dos funcionários, para a ida dos que permaneceram em plantão, sobre ele. (o senhor...).

Ela, disse-me em tom firme: - Alguém mexeu com ele, mandou ele ir embora? Eu juro que, se até mesmo o diretor "brigar" com ele só por está transitando bêbado na unidade, eu discuto mesmo! Ninguém vai mexer com ele aqui, na minha presença.

A reação dela até me espantou! Disse: "calma... ninguém mexeu com ele, não. Todos nós fomos até bastante paciente com ele.

Mas diga-me, colega... você o conhece? O que houve contigo, mulher...? eu nunca a vi falar tão séria e firme assim com ninguém, e mais ainda, comigo.

Ela, respirou... sentou-se na cadeira, olhou distante para o vazio a frente e, disse-me em tom suave e pesaroso:

"Desculpa, Fábio... sabe o que é... é que aquele senhor que sempre chega aqui bêbado à noite, era filho de uma colega nossa... que trabalhava aqui, antes de você vir pra UPA. Ele eram quem vinha buscar a mãe a essa hora, quando terminava seu Plantão.

- Houve uma vez em que ela esqueceu de avisa-lo para vir busca-la, antes de sair de casa. Quando ela ligou ele já tava dormindo, com o telefone distante.

- Quando ele levantou-se... horas da noite, haviam algumas chamadas não recebidas em seu telefone.

Ela saiu do plantão... pegou um Taxi pra ir pra casa, ainda próximo daqui, houve um acidente de trânsito envolvendo o Taxi que levava ela. Que veio a falecer...

- A partir dali, Fábio... toda noite de sábado em que completa a data que ela morreu, ele vem até à UPA. Mesmo que ele não fale nada sobre - não é que ele nem cita o nome da falecida mãe? - eu disse: sim, é verdade ele não citou nome algum - pois, é... mas é a mãe dele que ele vem para buscar, Fábio.

- E nunca mais a encontrará no Plantão. Ele sofre muito com isso. E sente grande culpa por não ter visto o celular dele tocar, quando ela ligou." Disse-me, a colega de trabalho.

E toda noite de sábado em que se completa o dia do acidente de trânsito em que vitimou a vida de sua mãe, ele vai até à UPA. Em seguida, ele sai... vai embora, por não mais poder leva-la para casa. E sempre chega no mesmo horário... a hora em que ele sempre ia lá para leva-la pra casa.

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*Prezados leitores (as), essa história é real aconteceu mesmo. Eu apenas reproduzi em texto, o que eu pude acompanhar em uma de minhas experiências como funcionário público. Até hoje.

Fabinho Oliveira
Enviado por Fabinho Oliveira em 14/03/2015
Reeditado em 03/04/2015
Código do texto: T5170295
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