Fausto Wagner

Eu me lembro daquele dia. Na verdade, duvido que um dia possa esquecer. Foi doloroso, eu diria até sufocante.

Na quinta feira, nossa certeza foi confirmada, ele ficaria bem.

Naquela madrugada, nossas certezas e expectativas foram para o lixo, mostrando que Deus é quem decide o que vai acontecer.

E Ele o levou. Tirou de nós uma das pessoas mais importantes de nossas vidas, nos deixando devastados com a dor.

O que é a dor da morte, afinal? Saber que não veremos mais aquela pessoa que era tão presente em nossas vidas?

Diariamente somos devastados com essa dor. O sufocamento de acordar todos os dias e não ver aquela pessoa ao lado. A dor de não ter alguém ao lado para apoiar e ajudar, como lhe era costumeiro.

E ele era tudo isso. Por mais distante ou íntima que eu pudesse ser, eu tenho certeza que ele era tudo isso. Um confidente, amigo. Dizem que ele não merecia... mas o que é não merecer para eles? Nós sabemos tão pouco sobre nossa pequena passagem por aqui. Quem sabe, em outro lugar, nós não nos encontremos com ele? O relacionamento seria de outra forma? Valorizaríamos mais a presença dele?

Não.

Nós não somos capazes de valorizar o que temos diariamente,  por isso a perda nos dói tanto. Porque não deu tempo de dizer tudo o que sentíamos, tudo o que pensávamos.

Naquela sexta feira, eu senti tudo isso. Quando fui avisada do falecimento dele, eu me senti sufocar. Ele não estava mais entre nós, eu não o veria mais em vida. Ele se fora deixando para trás uma bela massa de corações partidos.

Mas nós seguimos em frente, do jeito que, eu tenho certeza, ele queria que fizéssemos. Mesmo partidos, nos multiplicamos para darmos conta do que era dele, do que ele deixou. Eu espero que ele esteja bem, e mesmo com um fim conturbado, quero que ele esteja feliz. Que nos olhe com orgulho por termos anestesiado a ferida.

Mas ela não cicatrizou. Eu me perguntava se isso era bom ou ruim. Nós choraremos todas as vezes que algo encostar na ferida, mas sempre que isso acontecesse nos lembraríamos de alguém que fez parte da nossa vida, que a mudou, que a fez valer a pena. Alguém que - como já disse - não merecia ter sido levado. Mas nós nunca vamos compreender. Apenas fechamos os olhos e secamos as lágrimas, pois a vida não nos abre os braços quando estamos mal. Pelo contrário, ela se fecha ainda mais e somos obrigados a procurar dentro de nós mesmos um jeito de seguir em frente, um jeito de levantar a cabeça e secar as lágrimas que um dia fora ele quem secara.

Temos que olhar pela janela do carro e perceber que ninguém se importa. Que ninguém para a vida por nossas dores e ninguém tem piedade de nós.

Então nos escondemos. Embaixo de sorrisos falsos, agradecimentos forçados e rotinas que não nos permitem olhar para dentro, pois se olharmos para dentro, veremos a bagunça que ficou. Veremos o coração quebrado derramando sangue, e então desabaremos em nossas lágrimas de saudade de alguém que não vai voltar. De alguém que foi forçado a nos deixar.

Mas então sorrimos novamente, nos escondendo da verdade, e deixamos aquela ferida anestesiada de novo. Para que ninguém perceba que aquele fato nunca será superado. Para que ninguém perceba que aquele amor nunca vai morrer. E que para nós ele não morrerá nunca, pois amor não deixa morrer. O amor que sentimos não acaba com a morte, ele prevalece para que um dia, talvez, possamos nos reencontrar.

Milena Hipólito
Enviado por Milena Hipólito em 03/04/2015
Reeditado em 12/04/2015
Código do texto: T5194069
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