MINHA MÃE

 
     Na parede o retrato antigo, em meio-corpo, da mulher muito jovem, com o delicado rosto sobressaindo dos cabelos castanhos, anelados, rosto a emergir de romântico vestido. Na boca, leve sugestão de batom escarlate. Um coração de menina, com os sonhos todos intocados, intactos. Meu pai ainda não havia surgido. Só havia tido um namoradinho, o namoro não dera certo. 
        Desta jovem operária, que ia à fábrica todos os dias e nos domingos à missa, quais poderiam ser os sonhos? Sonharia, talvez, com grandes realizações profissionais? Imaginaria para si mesma uma professora, advogada, médica, engenheira, cientista... todas eminentes? Havia, decerto, mulheres, já naquele tempo, a tecerem semelhantes sonhos.Não eram tantas.
        Ela era uma das que não. Sonhava apenas com um príncipe encantado a trazer na bagagem abraços, beijos e filhos. A FELICIDADE. Esta jovem do retrato: minha mãe.