Aqueles olhos azuis. [The boy with the J.T. part 2]

Eu posso ver o topo da cabeça dele daqui...

Tossia frenéticamente, mentira, deu uma tossida, só estava tentando ser dramática. Entrou na sala bem de manso, bem discreto, e é bem assim que eu gosto, discrição. É incrível quando se nota que certas pessoas chamam tanta atenção pelo simples fato de serem... discretas.

E era sempre assim que eu via meu garoto of the J.T.. Lembro-me de estar sentada na praça, quando ele e um amigo passaram, discretos, calmos, e soníferos me olharam virando as cabeças para trás após passarem por mim. Não sei o que pensaram ou porque olharam. Pporque se deram o trabalho de olhar para trás e fitar a menina ruiva? Só sei que se deram, e que foram correspondidos. Diferentemente de qualquer outro fitar na rua, nenhuma das partes se envergonhou com o notar.

Mas enfim, ele entrou na minha sala, leu um aviso qualquer e veio me pedir uma informação sobre o mesmo. Solene me pediu, solene respondi. Nunca havia notado, mesmo após as tantas situações de fitar, que seus olhos eram azuis, muito azuis, ressaltavam ainda mais aquela cabeça sem cabelos.

Trazia consigo uma garrafa d'água, odeio água, mas o perdôo.

Após usar os computadores, se aproximou da minha mesa com suas mãos finas e infantis, para pegar uns papéis. Mesmo com tanta proximidade, estávamos separados por um vidro. Incrível como tudo em minha vida, cada detalhe de maravilha contém uma barreira, uma lombada, um vidro. Eu o olhava forte, muito forte, sem nem pensar no medo dele notar e me olhar de volta. Odeio quando percebem e olham de volta, arruína minha discrição. Ele continuou cabisbaixo e entretido em grampear seus papéis.

Meu garoto recolheu as coisas, amassou os papéis e jogou na caixa de reciclagem. Quando pessoas normais faziam isso, eu fervia de raiva, pra que amassar? Mas ele... não senti nada, só o amor usual, amor de mim para meu garoto, amor nosso e só nosso.

Virou-me as costas e se foi, como sempre, frio e contínuo. Não tive tempo de fitar mais uma vez aquele azul, não tive, mas sei que um dia irei além, muito além do fitar.

Thabata Guerra
Enviado por Thabata Guerra em 18/06/2007
Reeditado em 04/08/2007
Código do texto: T531887
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