Washington Alves Abreu: Silêncio no Restaurante

O restaurante do Ministério das Relações Exteriores, o famoso "Garajão", continua, aparentemente, o mesmo. As filas em certos horários, um dia comida boa, outro dia nem tanto, usuários de vários ministérios, além dos da "Casa". As pessoas continuam se encontrando e seguindo a semântica: "cumedere", comer tem que ser um ato social, um encontro. Solteiros que não têm para onde ir na hora do almoço e passam o dia todo na repartição aproveitam para fortalecer laços. Os que moram longe para evitar o trânsito ou coisas parecidas. Mas para aqueles que conheceram e privaram da amizade e da companhia de Washington Alves Abreu o silêncio está por toda parte.

Washington era a alegria do "Garajão" do MRE. Sua mesa sempre cheia, o papo corria solto, ia de um a tudo, dependendo da audiência. Futebol, política, administração interna, curiosidades sobre os postos onde serviu, mas tudo sempre com inteligência e humor. O que mais acendia seus ânimos era uma crítica ao ex-presidente Lula e um elogio ao PSDB. Alguns o alfinetavam, sabendo disso. "Mas, reitero, eu não sou PT, sou Lula", dizia. Quando o assunto terminava, com a debandada dos comensais para voltarem a suas salas, ele ainda segurava alguns, porque queria companhia para tomar um cafezinho. Ali, continuavam as brincadeiras e as conversas sérias, mas sempre em tom jocoso. Depois ia fumar no beco entre o Palácio e o Anexo I. Divertidíssimo. Tendo servido, em épocas diferentes nos mesmos postos, sempre tínhamos algo a mais para lembrar.

Quando estava se preparando para uma missão transitória para Roseau, Dominica, foi que ouvi falar da cidade e do país. Ia pelas mesmas razões de sempre: os salários no Brasil são bem mais baixos, é preciso sair quando as coisas apertam. Disse que ia ser só por três meses, talvez topasse uma prorrogação.

Em julho, tirei férias e fui a Minas. Na volta, vim a saber de seu falecimento naquele país por um amigo comum, assim, de chofre, entre as gôndolas de um supermercado. Você não acredita, mentaliza, é como se o visse em sua sala, sempre atencioso, à moda antiga, acostumado a ajudar o ser humano, ou caminhando pelos corredores, sempre pronto a um papo sobre qualquer assunto.

Fui a seu sepultamento, cheguei quase na saída do cortejo fúnebre, acompanhei-o e ouvi as últimas orações por ele.

Repito: depois disso, o restaurante do MRE ficou triste. Washington Alves Abreu faz muita falta. Não o estou resumindo ao colega de trabalho e aquele amigo em potencial que, morássemos em uma cidade pequena, certamente seríamos. Era o ser humano em toda sua plenitude. Tinha sempre assunto, sério ou divertido, era com ele mesmo. Não deixava nunca morrer uma conversa.

Encontro sempre alguns participantes de sua mesa ou de seu grupo de amigos, colegas como Hélio Lobo, Zezinho do Dólar, Celso Pais, Rui Barbosa, Paulimar Alves de Souza, Júlio Vanderlei, Tarcísio Vieira, Ricardo Viterbo, Joaquim Porfírio, Euclides Santa Cruz, Maurício Ramos e outros mais, de quem, no momento, não recordo. Até em outros ambientes o conheciam. No Clube Vizinhança da Asa Sul, por exemplo, conheci um seu companheiro da Maçonaria, Ivan Rosa Marques, e as referências foram as mais elogiosas possíveis. A propósito, Washington, na Maçonaria, era Vigilante de 2ª Hierarquia.

A sua família, em especial ao irmão, Wellington Alves Abreu, nosso colega, desejamos frisar que só temos lembranças boas do Washington e fazer público os meus particulares sentimentos por essa perda inestimável.

(William Santiago)

William Santiago
Enviado por William Santiago em 14/12/2015
Reeditado em 13/09/2017
Código do texto: T5479955
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