O amigo da camisa amarela

Quando concluí minha oratória, logo pensei como transmitiria meus sinceros sentimentos. Não seria fácil, sendo já um homem feito, não poderia esconder atrás dessa timidez, porém as palavras, seriam deveras meu escudo.

Confesso que algumas frases e sonetos foram particularmente criativos e ousados, outras palavras, no entanto, e, no entanto... Mas a intenção estava totalmente prendida ao ato, minhas convicções estavam lá num pedaço de papel, coesas. E o suspiro faltante era apenas o ato da entrega.

Sr° Gentil, é o meu amigo, e sempre faz esse tipo de serviço quando alguém o solicita, que confesso nuca havia precisado, até então. Essa missão com certeza confiaria a ele, pois nosso laço de amizade, vai além de marcas e patentes, trata-se de um tratado (literalmente), e não fugimos as regras em nenhuma circunstância.

No dia combinado, lá estava ele, pronto a desempenhar seu habitual ofício. Minhas mãos tremiam, minha voz rouquejava e minhas pupilas dilatavam. Era o momento derradeiro, onde minha amada, saberia de meus sentimentos para com ela, e se deleitaria com meus sonetos, outrora chamados de ousados.

Sr° Gentil, traz em sua bolsa azul, minha carta como se tivesse embalsamada numa proteção contra perdas e danos. Realmente nem precisaria dizer que esse é o meu amigo.

Falamos muito sobre o conteúdo da carta e ele simplesmente, expressou: “Fique tranquilo! Esse é meu trabalho, e não se preocupe caso tenha encontrado dificuldades ao encontrar uma palavra adequada, isso não quer dizer que ela não exista, pode ser que ela simplesmente não exista em sua língua. O fato de uma expressão existir em um idioma e não em outro se deve, simplesmente, a uma questão de necessidade. E essa necessidade foi contornada por você”.

Refleti por instantes.

Já é quase seis da tarde e ele retornou fadigado pela obrigação. O boné azul, deixou em seu armário e a camisa amarela trará para ser higienizada. Com certeza seu dia foi cansativo. Ele saiu à porta e me ligou, contando o sucesso de sua entrega. Ao fundo, ouvi um onomatopeico “trim-trim”. Era o som de seu cartão de ponto indicando o final do expediente...

Rodolffo Lima
Enviado por Rodolffo Lima em 16/12/2015
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