Mesmo depois  que saí da empresa, não perdemos o contato. Algumas coisas estavam sendo mudadas no interior da empresa e eu não quis continuar, se o Sr. Enoch e o Carlos Faria deixassem o cargo; conversei com nosso chefe e ele confirmou sua saída e a do Carlos.  Então, pedi que me colocasse na lista de pessoas a serem dispensadas, para que eu fosse indenizada e ele assim o fez.
 
Fui para outra empresa, porém, continuamos a manter contatos. Assim fomos nos conduzindo, até que marquei a data de casamento; perdi contato com você por 10 anos, porém, nunca deixando de me lembrar de você e sentir saudades.
 
Era difícil tentar encontrá-lo, quando eu morava tão longe e nem tinha condições de buscar notícias; isto foi assim, até que você telefonou em casa e pediu notícias minhas para minhas irmãs; fiquei feliz em ter novas notícias e você  pediu para ser avisado quando eu fosse a S.P.
 
Minhas irmãs cumpriram a promessa e você foi me visitar; lembra-se? Trouxemos de volta nossos anos vividos, relembrando  tudo o que aconteceu. Daí para a frente, nunca mais perdemos o contato; acho que estivemos mais próximos do que nunca.
 
Recebia um telefonema seu  com freqüência, principalmente nos finais de ano, em vésperas de festa. Foi assim que  acompanhei sua jornada, até o dias atuais.
 
Lembro-me de tudo a cada dia, com muitas saudades e acima de tudo, com muito carinho. Preciso dizer que  neste sábado, dia 11, comemorei meus 61 anos de vida; reuni meus amigos mais íntimos e fiz um jantar. Recebi uma grande surpresa: uma pessoa amiga ofereceu-me uma seresta. Um seresta!
 
Fiquei muito emocionada e não pude me conter. Chorei! Chorei muito mais porque pensei em você. Chorei porque doeu muito pensar na sua realidade de hoje e saber que  você já não pode me telefonar, porque suas condições de saúde não o permitem.

Mas não quero falar sobre isto agora; quero antes me lembrar do dia em que foi me visitar mais uma vez. Pedi que minhas irmãs te avisassem de que eu chegaria em breve.
 
Então, você chegou e trouxe um pacote embrulhado que eu abri. Que surpresa! Era um quadro com o desenho de uma rosa, um botão de rosa que desenhei na mesa do nosso escritório, improvisadamente, em 1962.
 
A rosa já perdera a cor. Restava o contorno feito a lápis em papel sulfite;  o caule e as folhas, ainda guardavam vestígios de um colorido verde, já desbotado pelo tempo. Desenhei aquele botão de rosa, colori com lápis de cor e assinei meu nome que você pediu.
 
Você levou este desenho e guardou! Nem acreditei!Fez dele um quadro e o colocou em sua casa  como decoração! Nunca pensaria que você fizesse tanta questão! Marlene me contou pelo telefone, quando liguei em sua casa para pedir notícias suas; disse-lhe meu nome:

 
“Marlene, sou Najet. amiga do Roberto.
-- Oi, Naget, conheço você de tanto o Roberto falar seu nome.
Tenho um quadro aqui na sala, que ele não deixa ninguém tocar; fala de você o tempo todo, tantas coisas, que já te conheço sem ter- te visto.”

 

 
Você me pediu que retocasse o quadro; como poderia retocar o papel já tão velho, sem rasgar? Você levou seu quadro de volta, com tanto carinho, porque ele havia caído e quebrado vidro. Mesmo assim, você não quis jogá-lo fora.
 
Um dia, eu lhe mandei um quadro atual; mandei uma rosa vermelha pintada em nankim, um quadro que havia participado de uma exposição minha. Você  me telefonou para agradecer e dizer que, ainda assim, aquele velho desenho era  de um valor inestimável.
 
Inestimável, valor inestimável, é esse seu jeito de me amar. Este carinho é algo sem igual; ter guardado este desenho é uma prova disto.
 
Por esta e outras razões, eu me lembro de cada detalhe e tenho uma enorme saudade e tristeza de pensar que... olhe, agora não! Em outro momento falarei disto! Agora, quero pensar que meu novo quadro foi colocado em sua sala, em lugar de honra, porque é assim   que você me guarda dentro de sua alma e eu te guardo sempre na minha.
 
Lembre-se: Você é alma gêmea da minha! Quando partirmos e tivermos que retornar, você retornará na mesma vida, tempo e espaço que eu, para que possamos nos apoiar como agora. Mesmo na distância, você e eu sempre estivemos muito perto um do outro.
 
São 12:14:40; neste momento, estou escrevendo, pensando em você, enquanto coloco as mãos sobre sua cabeça, te abençoando e pedindo a Deus pela sua tranqüilidade, pelo alívio de qualquer sensação de dor ou de consciência que você possa ter de seu real estado. Nada que o faça sofrer! Sente? Minhas mãos estão sobre você!
 
Najet Cury (Roberto! Continuo sendo a Najetinha de sempre!)
segunda-feira, 13 de setembro de 2004, 12:17:18.
Saudades eternas! 
Najet Cury
Enviado por Najet Cury em 06/08/2016
Reeditado em 07/08/2016
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