Filhota

Já faz praticamente vinte e oito anos que nós conhecemos. Muitas vezes cheguei a ter raiva de você, mas daquelas raivas que na verdade é só decepção por algum ato cometido por um filho diante do pai que tentando passar-lhe o melhor, não admite ter errado ao imputar-lhe seus conhecimentos, que para ele são os melhores diante dessa sociedade que muito cobra quando há falha na criação de um filho.

Relembrando os anos primeiros de nossa convivência, ainda vejo você correndo em minha frente e quando cansava sentava-se no meio fio e dizia, pai estou com sede, o que na verdade significava cansada. Quantas alegrias me trouxe ao coração, quantas brigas por não concordarmos em assuntos diversos, mas que com o passar do tempo fazia com que nossa união se fortalecesse cada vez mais. É passado eu sei, mas sei que é um passado gostoso de se lembrar, de rememorar, seja os momentos alegres seja os momentos tristes. E agora você vai partir, vá com Deus e seja muito feliz. Mas do que estou reclamando se fui eu mesmo a dar a permissão para que você voasse. É bem verdade que também impus uma condição, caso não se adapte a nova maneira com que levará sua vidinha diária. Condição essa que é nada mais do que: Volte, pois aqui as portas para você estarão sempre abertas, sorridentes e acolhedoras. Mas tenho plena convicção de que será muito feliz ao lado do mancebo que escolhestes para teu companheiro e que juntos me darão lindos netinhos, para consolar meu doído coração.

Meu bem, a vida continua com ou sem a presença física, mas jamais sem a presença espiritual, pois tenho certeza de que nossos pensamentos estarão sempre em comunhão. Agora só me resta de desejar mais uma vez uma vida repleta de alegrias e muitas felicidades e, nunca se esqueça de que o ombro do papai estará sempre pronto a receber sua cabecinha caso seja necessário, não só a sua, mas a de seus irmãos também, pois pai não pode fazer distinção.

Lázaro