MEUS CINCO PAIS

Essa é uma homenagem a todos os pais que existem dentro dos pais.

Durante toda a minha vida eu tive cinco pais. O primeiro foi o mais avoado e atrapalhado, era ainda um rapaz que se enrolava todo na hora de trocar minhas fraldas quando eu era um bebê; me dava a mamadeira muito quente, me segurava do jeito errado e tentava arrancar os próprios cabelos ao ouvir os meus berros; quando perdia a paciência me levava para a casa de meus avós. Eu lembro direitinho até hoje! Ele dizia para minha avó: "mãe, o que eu faço? Ele não para de chorar!" e me enfiava a chupeta na boca. Então minha avó me pegava no colo e eu num instante calava e até mostrava um sorriso, enquanto olhava para meu pai coçando a cabeça a indagar: "como a senhora fez isso?"

Meu segundo pai já era um pouco mais crescido, nesse tempo já havia aprendido bastante coisa sobre cuidar de mim. Esse pai foi o mais besta dos cinco! Quando dei meus primeiros passos ele só faltou chamar uma banda para desfilar, vivia me jogando para o alto e gravando vídeos das minhas quedas. Pena que ele não ficou tão feliz na vez em que eu disse a primeira palavra, "mamãe", ficou bastaaante chateado... Mas acredito que ele já me perdoou por isso.

Meu terceiro pai foi o meu preferido. Eu já estava um rapazinho e amava imitá-lo! Usava roupas iguais às dele, andava como ele, assistia futebol com ele... Eu era fã número um do meu pai e ele era meu herói! Mas não um herói qualquer... Um que não podia voar, não tinha visão raio x, nem um uniforme legal. Mesmo assim ele era o maior de todos para mim.

Já o meu quarto pai, este eu posso dizer que foi o mais paciente e tolerante, pois eu estava na minha rebelde adolescência e custava a obedecê-lo em tudo! Se ele me mandava fazer uma coisa, eu ponhava o fone de ouvido e topava o volume. E ele, coitado, ficava lá, falando sozinho, morrendo de vontade de pocar minhas espinhas nojentas, uma por uma. Se eu fosse ele naquele tempo, teria me estrangulado! Não ele, mas eu! Eu teria estrangulado eu. Acho que foi a época em que mais me afastei do meu pai.

Agora o meu quinto pai é o de hoje e o mais cansado. Também, foram anos de trabalho, aturações, brincadeiras, falhas e sucessos, foram bem merecidos os cabelos brancos, meu pai foi um pai todo esse tempo e merece um descanso! Não que ele vá deixar de ser meu pai, mas é que agora ele já é avô e sou eu quem está indo agora para a casa da mamãe para ver se ela me ajuda a pôr essa fralda no meu pequenino, porque até hoje, acredite, meu pai não aprendeu.

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 13/08/2016
Reeditado em 13/08/2016
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