Homenagem ao poeta Zé Laurentino
Faleceu anteontem, aos 73 anos de idade, vítima de um câncer no fígado, o poeta Zé Laurentino, natural do Sítio Antas, Puxinanã - PB. Caririzeiro, de orígem rural, começou fazer versos aos 12 anos de idade. Ele foi autor de vários livros, entre os quais “Sertão, humor e Poesia” (1990) e “Poemas, prosas e glosas” (1988), entre outros. Membro da Academia de Letras de Campina Grande, Zé Laurentino também fez várias parcerias ao longo de sua carreira.
Abaixo, um dos seus poemas que eu simplesmente adoro. O dia em que um poeta resolve procurar um Jornal pra publicar sua obra... atualíssimo!
Um poeta popular
Foi procurar um Jornal,
Pretendendo divulgar
Seu trabalho cultural.
Era um sonho acalentado
Desde o tempo de menino,
Ver seu retrato estampado
Nas páginas de um matutino.
Encontrou lá o Jornal
Com o livro embaixo do braço,
Procurou o redator
Mostrando desembaraço.
O redator disse não:
E alegou falta de espaço.
Mesmo porque sua foto
Muito espaço tomaria,
A página já estava pronta,
Bastante matéria havia,
No fim aquela conversa
De passe aqui outro dia.
Então o jovem poeta
Desapontado saiu,
Pensando na entrevista
Vinha um carro ele não viu.
Ranger de freios e um grito
De muito longe se ouviu.
Estava lá o poeta
Debaixo do caminhão,
Um lápis na mão direita
O livro na outra mão,
Estava morto o poeta
E morta a sua ilusão.
No outro dia o Jornal
Grande matéria trazia,
Com a foto bem na capa
E a manchete que dizia:
Poeta morre esmagado
Debaixo de caminhão,
E a poesia perde
Um vate de inspiração.
Aí o Jornal abriu-se
E não se tornou escasso,
Porque pra notícia ruim
Nunca faltará espaço.