Eles se foram...

Eles viveram. Se foram felizes não sei dizer. Também não posso nem escrever-lhes, pois nem respondem mais. Estão distantes de mim. Estão?

O certo é que fizeram o que sabiam, o que podiam, e como podiam.

Também foram filhos, depois adolescentes implicantes. Menos que nós pois a disciplina era muito rígida – não errada – e talvez era a mais certa.

Também foram jovens pais. Aprendizes, inseguros, seguindo os passos dos antepassados que ainda amavam, que veneravam.

Tratavam as crianças como crianças que mereciam cuidados e deviam obediência plena a eles. Coisas de adultos para as crianças eram proibidas. Não havia conversa que resolvesse. Não era não e acabou o assunto sem brecha para novas petições “choraminguntas”.

Eles se foram. deixaram uma lacuna impossível de fechar. Tiveram seus erros, afinal eram humanos e também aprendizes na vida. Deixaram bem claro a sua função no mundo e a exerceram com dignidade. Criaram dez filhos com toda a dificuldade que uma família pobre tem para sobreviver.
Hoje lembrei-me deles, porque ainda ressinto o dia de Finados. Dona Tereza, minha mãe. “Seu” Benedito”, meu pai. Dona Jenny, a sogra, “Seu” Otton, sogro, Wanderley, meu irmão. Thaís, a sobrinha. Natália, a cunhada., Dona Encarnação, a vozinha da Nara, Dona Cleide, mãe da Nara, minha nora."Seu" Hildebtando, pai de Nara. "Seu" Antonio, o avozinho da Nara. Todos viveram com lutas, trabalho difícil, decepções, tristezas, necessidades de toda sorte e, venceram tudo, ultrapassaram tudo. Derrubaram os obstáculos. Venceram inimigos. Muitos cruéis, zombeteiros, ardilosos.

Eles se foram e nós ficamos, herdeiros que somos de sua dignidade, dos seus valores morais ensinados com o exemplo. Deles não restou somente fotos no álbum de família ou no aparador ou, nas paredes para um “post” na internet. Deles ficou o som da voz, do riso, ficaram os netos, agora bisnetos, que contarão histórias verídicas a respeito deles, que serão também fonte de orgulho e de aprendizagem.

Por isso a eles todos peço perdão por todo um comportamento idiota que tive, por respostas ásperas a questões simples. Peço perdão pelo azedume do riso juvenil que se achava sapiente, superior porque como jovem sabia mais que eles que já eram velhos. Peço perdão de coração. Peço perdão pelas visitas que não fiz, pela ajuda que não fui capaz de oferecer. Por tudo que podia ter feito e não fiz, perdão pelo que deixei de fazer.

Desejo que lá onde estão possam ter encontrado a paz que se procura tanto aqui desse lado. Que tenha conquistado o que não conseguiram por aqui.

Deus abençoe cada um derramando sobre eles bênçãos, luz e amor. Que suas jornadas sejam sempre amparadas e conduzidas pela mão de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois eles sabem que ELE é a o Caminho, a Verdade e a Vida ... Eterna.

 
MVA
Enviado por MVA em 14/11/2016
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