Maresia: "O senhor rouba mas faz"

Passando em frente à Igrejinha da 307 Sul, Brasília, escuto, no trecho do Sermão da Quarta-Feira de Cinzas de 2017, que voltaremos todos ao pó de onde viemos. Nenhuma novidade. De repente, nem sei por que, me lembro do Maresia, Martins José Suave, capixaba de Linhares, que alegrou Pitangui na metade da década de 70 até hoje, embora, ultimamente, tendo voltado a morar em sua terra, só passe alguns dias por ano em Pitangui, no mês de julho, aniversário de seus filhos, meus sobrinhos.

Acho que sei por que me lembrei dele à menção do pó ao qual voltaremos. Um dia, tendo tomado algumas cervejas no Bar do Dirceu, no alto do São Francisco,desce a Av. Isauro Epifânio, perde o freio atrás do Fórum, passa entre a padaria Valério, sobrado do Bejjani de um lado e a Casa Paroquial do outro, até encontrar e destruir completamente um trecho do velho muro e o vetusto portão de madeira do antigo solar dos Malaquias.

Antigamente consultório dos dentistas Murilo Malaquias e Lauro Saldanha, no momento da "catástrofe" era o Bar do Amaury Nunes, um dos mais frequentados pela juventude naquela altura.

Voltemos ao pó. Ao colidir contra o muro e o portão, a poeira levantou, houve um silêncio expectante, a poeira desceu e, do carro amassado, voltando do pó e não para o pó, ao gáudio de todos, escapa o Maresia, limpando a roupa com as próprias mãos e pedindo com sua voz estridente, mais que conhecida na época:

- Uma pinga e um cigarro.

Primeiro um instante de silêncio, depois, ao verem que era ele mesmo e que estava bem, inicia-se mais uma rodada de risos, acompanhada de muita cerveja.

O Maresia fez história em Pitangui. Entre outras, que me contaram, estava numa comemoração política, onde o principal personagem era o então Governador Newton Cardoso. Maré já tinha tomado algumas cervejas e sua voz se levantava mais ainda do que o normal, no caso, esgrimindo ataques ao Governador, que, segundo ele, roubava. Um dos companheiros do momento, também alto de cerveja, o desafia:

- Você não fala isso na cara do Governador!

- Falo!

- Não fala!

- Falo!

- Então vamos lá.

Maré, mais que "alto", se levanta e acompanha o amigo à mesa onde está sentado o Governador. Na informalidade do local, facilitada pelo álcool, é apresentado ao Governador, e, já combinado com o político e os circunstantes, provocam-no à queima roupa:

- O que você disse do Governador?

Maré olha para um lado e outro, e diz, em tom quase de reflexão:

- Que ele rouba.

E, ato contínuo, completa, alto e bom som, para todo mundo ouvir:

- Mas faz.

A gargalhada geral, já esperada, é acompanhada por uma nova rodada de cerveja.

Maré é isso aí: suas histórias não acabam, sempre tem alguma novidade, que espero ir colecionando e publicando por aqui. Seus causos começam na juventude no Espírito Santo, continuaram por Pitangui e recomeçaram na terra natal nos últimos anos. Gosto dele de graça, é o bom humor em pessoa, menos segunda-feira de manhã.

William Santiago
Enviado por William Santiago em 10/03/2017
Reeditado em 13/03/2017
Código do texto: T5936766
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