E o silêncio se fez...Belchior partiu sem dizer adeus!

Petrus, meu marido poeta,

Um olhar , o silêncio, o poeta morreu.Silêncio, pensamentos em desalinhos, tu chegaste até mim com os olhos fitos no chão, mão roçando no queixo, a boca se negando a falar, e num balbuciar quase inaudível me sussurrou: - Belchior morreu!

Minha reação foi perguntar embasbacada: - Tens certeza? Quando me olhaste com um " olhar lacrimoso", vi que era verdade. Belchior não voltaria mais, eu não iria assisti-lo cantando as músicas que tanto gosto, ele havia partido para uma longa viagem, como sempre sonhou. O poeta saiu de cena sem olhar para trás, sem querer saber quem iria chorar ou mesmo aplaudir a sua partida.A voz calou-se, os pensamentos inquietantes emudeceram, o pulsar desenfreado de suas veias já não mais pulsavam, a morte o havia levado para um longo passeio, e ele foi sorrindo.Mas antes, deixou suas letras marcadas em muitos corações.Seus protestos, suas afirmações convictas, seu desespero em não ser compreendido, são registros para a posteridade.O condor voo alto e atravessou as nuvens para não mais voltar.

As letras de Belchior misturadas às suas emoções me deixam com um choro preso na garganta.E como somos das bandas de lá (ele do nordeste e nós do norte), deixo aqui parte de uma música que rasga a alma.

Conheço o meu lugar

"...Não! Você não me impediu de ser feliz!Nunca jamais bateu a porta em meu nariz!Ninguém é gente!Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!Não sou da nação dos condenados!Não sou do sertão dos ofendidos!Você sabe bem: Conheço o meu lugar!"