Requiem para Dona Carlota

Em peso, e pesar, o Brumado se fez presente às exéquias de Dona

Carlota Chaves, juntando-se às legiões de Pitangui, Belo Horizonte, e

de alhures, no sentido adeus àquela que dignificou a função de esposa,

mãe, amiga, educadora e conselheira ao longo de tantas décadas. A sua

numerosa e vitoriosa descendência, que se destaca em diversos ramos

profissionais de nossa sociedade é o mais vivo exemplo e legado dessa

virtuosa filha de nossa Velha Serrana.

E, na fidelidade aos princípios que nortearam sua existência, Carlota

parece ter sido iluminada até na escolha da data para o derradeiro

adeus: um domingo, o Dies Dominus, Dia do Senhor, a glorificar a paz,

o reconhecimento e o agradecimento pelo simples e sublime ato de

existir em plenitude.

Embora já entrada na décima década de sua passagem, Carlota exibia

robustos sinais de sua atinência a este precioso dom de viver - na

perfeita elegância do trajar, pele, unhas, cabelos...

A rigor, em função de minha vida tão andeja, vi Dona Carlota muito

poucas vezes, ainda nos anos cinquenta a visitar a gente amiga no

Brumado, sempre acompanhando o filho especial, Fabiano, mãe

especialíssima que sempre foi.

Já ao companheiro de muitas décadas, o saudoso José Chaves - cuja

imponente figura fazia-o sósia do hollywoodiano cowboy John Wayne, até

sem o chapelão - pude ver por mais vezes, geralmente ao balcão de seu

comércio tem-tudo no Brumado.

Na minha primeira ida a solo àquela nossa Leroy-Merlin de outrora, do

alto de meus cinco ou seis anos, encarregado por mamãe - papai estava

na fábrica e as manas Totóia e Bebel na escola...- de trazer com

urgência 40 metros de fio preto para a instalação elétrica da cozinha

que o pedreiro Zé Maria acabara de construir, eu sei que consegui

balbuciar que eram mesmo quarenta e não quatro os metros de fio

necessários à obra...E salvou-nos contudo do impasse a intercessão de

Dona Carlota ao sugerir que um atendente fosse in loco dirimir a

dúvida...

E o fio da meada é esse: moços e moças de Dona Carlota, rendam graças

pela progenitora que lhes abriu os caminhos da vida.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/06/2017
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