Se senta que lá vem emoção

À minha querida esposa

Tão pequenina, mas apenas externamente, em seu interior existe uma fonte de energia inesgotável e incalculável. O próprio filho, o compositor e poeta Erick von Sohsten, diz, entre outras coisas, que “ ...Da aparência frágil brota a força sobre-humana que carrega todos nós... És, por ser tão bela e soberana, A própria luz, Milhões de sóis...”.

A linguagem poética nos permite que digamos as verdades superlativamente, sem que nos pareçam exageros. E neste caso, o filho poeta disse com exatidão o que eu gostaria de ter dito em seu lugar, por expressar com perfeição milimétrica a minha própria opinião.

Ainda hoje me causa admiração como podem nela caber tantas qualidades. Firmeza de caráter, beleza natural, hombridade, elegância nos modos, modéstia, honestidade, disciplina, humildade, bom senso e principalmente paciência, esta última, sobejamente comprovada pelo fato de suportar, já por sessenta anos a minha nem sempre agradável presença, com todos os defeitos que não nego e reconheço ter.

Suportou com firmeza e compreensão as dificuldades financeiras dos primeiros anos, agravadas com o surgimento dos filhos. Foi uma vida difícil, porém durante todos estes anos, nunca de sua boca saíram palavras de insatisfação ou queixumes pela falta roupas, sapatos, joias ou quaisquer outros itens de uso pessoal que certamente lhe faltaram naquela época.

Quando somos jovens temos olhos e não vemos, temos ouvidos e não ouvimos. Isto sempre foi assim e sempre será porque é uma característica normal desta fase da vida, por isso, somente agora, passados sessenta anos, com a visão que me dá a velhice, consigo ver e reconhecer a grandeza e o valor do presente que recebi naquele longínquo 29 de junho de 1957.