corpo em rimas

Então, ocorre que sobra.

Um verso, uma rima...

Um copo vazio...

Uma olhada no tempo que vaza,

Logo já não sobra.

Apenas foge

Como verbo do corpo

Como folha no vento

Como chama da lenha.

Resta que resta nada

Senão mão caída, e corpo cansado...

E olhar perdido.

Resta a curva, e algo depois dela

Indefinido, não declarado.

Sobra não sabermos o que mais importa:

o tempo que já vivemos...

Ou o que nos resta?

Mas o que mesmo resta?

Se não o “pegamos”,

Se nada levamos

- de mãos vazias nos vamos –

Resta, pois este “agora”,

Parco instante congelado

Ao corpo atrelado.

Resta o doce toque do amante

Adentrando a derme

Indo à alma...

Resta o canto matinal do sofrê;

Resta o sempre, sempre, sempre...

Na sua imensidão turva

Da saliva envenenada

Restam as palavras gritadas

Por seus meigos olhos.

Resta uma praia cheia de grãos de areia,

Cada uma delas em que rabisquei:

- “te amo”!

Resta um pedaço de nada

Imerso nesta vasta imensidão

Do tudo que sou

Desbotada parede

Onde seu rosto eu pintei

Ali te tenho e te encontro

Toda manhã

A dizer que nada mais resta

Da dor da fria noite

E que nada mais falta

Para que eu sorria.

Sobra imaculada e terna musa

Rosa dos ventos, mapa é bússola;

Senhora de meu coração!

E de tudo, o melhor que me resta:

sobra rima tardia

que no corpo se enlaça

e no cabelo assovia.

À ti

Silmara;

Menina, mulher senhora,

Ou apenas, e singelamente Sil.

à ti dedico.

Sempre, sempre, sempre...