Não venha, ainda

Não venha, ainda! Não há esperanças para recomeçar,

as portas estão enferrujadas e janelas cerradas para amar.

Não ative seus desejos, o sorriso do retrato é montagem,

um adesivo à venda na banca da vida para ludibriar.

Não venha, ainda! A seiva que era doce em fel transmudou,

nem sei nem se há reversão nas veias dilatadas de tanta dor.

Melhor não ficar à espreita com esperanças de habitar,

coração abarrotado de tantas decepções, amarguras e bolor.

Minh’alma ingênua merecia teus afagos verdadeiros,

não aquele alçapão de amarguras e engodo.

Não venhas, ainda! Da eminente tragédia devo alertá-lo.

Mude o trajeto dos sonhos, pois os meus já debandaram.

Procure alguém que acredite no seu pobre vocabulário,

porque em mim só encontrará o niilismo embrutecido.

De presente, eis minha sinceridade, nada mais há comigo.

Restou-me apenas o embuste da matéria sem atrativos!

Não venha ainda! É ilusória a imagem nobre Poeta,

Há Sodoma no meu corpo com o fascínio de Gomorra.

Venha no portal da aurora na colheita do orvalho,

pronto para colher com as mãos as Cartas em Flor,

para dá-las aos pedintes de Amor que as saibam ler.

Do 3º livro no prelo, tributo a Florbela Espanca.

FLOR BELA, NÃO EU

Railda
Enviado por Railda em 03/04/2018
Código do texto: T6298875
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