O ADEUS AO HEROI

DO MESMO AUTOR DE ESCURIDÃO ABSOLUTA

ROBERTO MIRANDA

O ADEUS AO HERÓI

São Paulo

2012

NOTA DO AUTOR

Na Versão do Autor homenageia Terence Stamp, ator procurado pelo cineasta Ridley Scott para viver o papel icônico do General Zod em Superman – O Filme, contracenando ao lado de Cristopher Reeve e Marlon Brando, e recentemente fez a voz do onipresente Jor-El no seriado Smallville.

Nesta versão livre o autor dá tratamento diferenciado a dois momentos da saga do escoteiro azulão nos quadrinhos em um episodio final alternativo, posterior ao apresentado na serie porque os eventos daquele episodio são intocáveis, incluindo mais ação.

A intenção aqui foi oferecer aos fãs um tributo na medida para o seu herói da telinha.

O MESTRE DO MUNDO BELICO

Semanas atrás, em Magola, sede dos jogos fatais de Uri.

Naquele asteroide esférico movido a autopropulsão, viajando separado da frota de Mogul, estava acontecendo mais um duelo em sua arena de combate, ora assistido por uma grande plateia instalada nas arquibancadas do famoso coliseu.

Durante eventos deste tipo, os habitantes do mundo bélico mobilizam-se para venerar seu campeão na defesa do titulo lutando contra desafiantes cada vez mais poderosos, levando-os a entrar na lista de tentativas fracassadas.

Tal competição servia de distração ao tirano Uri e às tropas leais de Darkseid enquanto estas aguardam o momento de conquistar outro mundo sob as ordens de Brainiac.

Do alto do camarote reservado a comitiva do ditador de Magola, o anfitrião da corte, mestre Uri, assistia o confronto entre os dois gladiadores enclausurados na redoma inexpugnável, onde o emprego de armas e de poderes delimitado à zona de combate não implicaria correr risco de ferir a plateia.

O campeão era humanoide, de rosto transfigurado, e voava trajando uma bela armadura azul escuro, de brasão no peito, arrastando esvoaçante capa vermelha as suas costas. Um tipo elegante de guerreiro para aquela situação difícil. Decerto essa sua atitude lembrava muito o planeta de onde veio, Kripton, destruído pela armada de Mogul anos atrás. Exceto ele, nenhum outro kriptoniano sobreviveu ao holocausto. E por acaso foi resgatado e trazido a Magola para participar do torneio, sendo mantido vivo depois de consagrar-se campeão. E quando ele entra na arena mantém viva a valentia do seu povo, como na luta na qual enfrenta o Klagadoriano, Ardok, um astuto lagarto pensante de trezentos quilos.

Volta e meia o kriptoniano partia para a briga, às vezes soqueando o adversário, outras vezes simplesmente lhe dirigindo rajadas de raios que partiam dos seus belos olhos castanhos.

Seu forte oponente possuía algumas artimanhas da arte da luta corporal e habilidades no uso de adagas, estas firmemente carregadas nas mãos. Sua pele escamosa ardia ao contato das rajadas de calor e seus músculos retesavam-se quando esmurrado pelo gladiador azulão, que se movia rápido, quase sem dar chance de vê-lo direito. Contudo, o olfato era o trunfo do reptil e o campeão possuía um cheiro inconfundível, auxiliando o Klagadoriano a prever aonde dar estocadas com as adagas.

Embora fosse certeiro, o fio das adagas não conseguia rasgar o traje inteiriço do oponente voador, relando nele apenas para soltar algumas faíscas.

O campeão imbatível quase sempre resolvia o embate da mesma maneira, progredindo no ar e voltando em alta velocidade com os braços esticados para frente, juntando os punhos ao desfechar o golpe final, arrebatando o Klagadoriano e empurrando-o contra o muro do outro lado da arena, pondo-o a nocaute.

Com o reptil a seus pés, o campeão recebe os aplausos da plateia, que o saúda aos gritos de:

- Kal-El! Kal-El! Kal-El!

O semideus de capa vermelha olhou impávido para a plateia e pisou dolorosamente no adversário rendido no chão, escutando deste a seguinte queixa:

- Você, o ultimo Kriptoniano..., não tem vergonha de servir a Darkseid? — e continuou a admira-lo, reparando em sua face deformada acima do portentoso símbolo, um Z estilizado em alto relevo no peitoral da armadura azul.

- Eu só luto por Kripton! — Ardok ouviu em resposta, ao passo que as pupilas do kriptoniano iam ficando mais claras antes de disparar a rajada mortal.

- Não...! — foi o ultimo suspiro do reptil antes de ser cortado em pedaços.

A plateia aplaudiu de pé e comemorou a vitoria saudando a face desfigurada do campeão exibida nos telões expostos por toda a arena e no painel gigante, em frente ao camarote de Uri.

- Ele venceu pela centésima vez, mestre Uri. — afirmou Bazz, um tipo de organizador de lutas.

O ser de aparência sublime levantou o cenho demonstrando estar descontente com o resultado. Logo ele, acostumado a vencer mundos inteiros, estava obrigado a reverenciar o campeão por causa de um pacto entre as partes no momento da rendição do ultimo sobrevivente do planeta Kripton.

- Até agora não encontraste um adversário a altura. — Uri comentou rancoroso. – Mande recrutadores aos novos planetas! Temos de achar alguém para derrota-lo. Já estou cansado de ver o kriptoniano me afrontar com sua presença inabalável na arena.

Bazz conhecia bem o motivo de insatisfação do seu líder, que apesar de ter nascido do ventre da mãe da guerra honrava sua palavra.

- Kal-El tem cumprido a promessa, meu mestre! E todo povo feito prisioneiro pelo mundo bélico teme vir a morrer pelas mãos do ultimo filho de Kripton.

- Por esse motivo existe a arena. — lembrou-o o desalmado regente ao abocanhar a fatia de um tipo de pão preto. – Mas ela não foi feita para apenas um gladiador bater todos os recordes.

- Certamente é uma pena, mas Kal-El destruiu nossa equipe de gladiadores anos atrás. Depois de o senhor oferecê-lo como sacrifício ele precisou defender permanentemente sua vida em troca de refugio. E isto ele tem feito com extrema habilidade.

Uri achou ofensivas as palavras do insolente organizador, entendendo que o responsabilizava pelo sucesso de Kal-El, porém, conteve a raiva, pois Bazz tinha razão.

- Às vezes eu me arrependo disto. E acho que ele nos esconde alguma coisa. — retrucou Uri, lembrando-se da destruição do planeta Kripton pela armada de Apokolips anos atrás. – Kal-El estava perdido no espaço quando meu mundo bélico apareceu e o resgatou para promover a

ele um ultimo combate. Não tinha intenção de tê-lo como campeão da arena. — confessou enraivecido. – Sendo o filho de Jor-El, achei que nunca teria chance em combate.

- Jor-El era cientista e filosofo. Ele acreditava na possibilidade de vida eterna, até envolver-se na guerra dos clones. — confirmou Bazz. – Sem duvida, aquele período turbulento mudou sua razão de ser.

Uri concordou com ele.

- Ao menos o fez se envolver cegamente na criação de Brainiac. — afirmou ao recordar da participação dos agentes de Darkseid na cata de colaboradores do famoso cientista para fazêlos injetar o vírus da escuridão no modelo mnemônico. – E talvez Kal-El seja apenas o seu clone.

- Isso já foi provado. — adiantou o organizador de lutas. – Os exames genéticos foram conclusivos quanto a sua herança kriptoniana. — relatou Bazz. – Não existe a menor possibilidade de Jor-El ter manipulado os genes do feto do seu filho antes do nascimento. No entanto, quando o pegamos, Kal-El havia recebido algum tipo de tratamento genético.

- Jor-El devia ter aprendido uma nova técnica durante a guerra dos clones e lhe atribuiu habilidades. — deduziu Uri. – Ele também havia criado Brainiac para resolver o dilema da criação dos kriptonianos: a imortalidade, pois achava que o sol vermelho de Kripton lhes suprimia a invulnerabilidade.

- Então a pesquisa continha falhas, pois seu filho é vulnerável. — ironizou Bazz. – E Kal-El quase pagou por esse erro com a própria vida quando foi atacado por aracnoides de Hagnor Sete. — concluiu.

- Com certeza ele nunca se esqueceu disto, porque nunca mais o vi sem a armadura em publico. — lembrou Uri.

- Aquela enzima sulfurosa quase o derreteu e seu rosto ficou todo desfigurado desde então. — observou o organizador de lutas.

- Arrume outra luta! — Uri exigiu dele. – E desta vez vou querê-lo morto!

- Como quiser mestre Uri! — reverenciou o tirano e saiu do camarote preocupado em como iria atender a vontade do soberano.

Algum tempo depois, Bazz reuniu nas docas os seis melhores recrutadores de Magola para propor-lhes a missão de procurar o novo desafiante, não restando a eles outra opção senão retornar ao mundo bélico somente depois de encontrar o proponente.

Mesmo duvidando do sucesso da empreitada três equipes de recrutadores embarcaram em suas naves de longo percurso rumo às galáxias mais próximas, levando todo tipo de armadilha na bagagem. E com essas naves mais rápidas que a luz a jornada entre as seis galáxias espiraladas do quadrante fora feita em tempo recorde.

Skellt e Ziac formavam a dupla de recrutadores da segunda equipe, ambos tinham aparência humanoide, mas seus traços anatômicos lembravam muito um inseto. Eles foram responsáveis

pelas mais sangrentas batalhas travadas pelo campeão e nesta missão teriam de fazer visitas rápidas há duas galáxias. E a meio caminho da segunda interceptaram a mensagem enviada por um servo de Brainiac, antes de a base terrestre dele ser desativada pela Liga da Justiça.

- Esta mensagem é endereçada à frota de Mogul. — dizia o humano com um sinal na testa. – O ataque fracassou e Darkseid foi morto pelo alienígena enviado a Terra para protegê-la. Repito....

Os dois ouviram a mensagem mais de uma vez e discutem a possibilidade de interromper a busca do desafiante naquele setor.

- E agora? Devemos voltar e levar a mensagem ao Mestre Uri. — avaliou Skellt, levando a serio a ameaça feita, caso voltassem para o mundo bélico de mãos vazias.

- Não! — decidiu Ziac. – Este pode ser um candidato em potencial.

- O defensor da Terra? — indagou Skellt, demonstrando seu medo de ir enfrenta-lo. – Qual é? Nós somos dois idiotas perto dele.

Ziac não pensava em passar vexame.

- Darkseid passou pela Terra por causa de boatos sobre um monstro andando por lá.

- A copia de Brainiac enviada para lá também deixou de responder. Este defensor da Terra deve ser perigoso. — Skellt referiu-se a ele com certa admiração.

- Exatamente!

- E o que faremos então? — Skellt perguntou, estarrecido com a ideia que passara na cabeça do seu parceiro.

- Nós vamos pegar dois coelhos com uma cajadada! — antecipou Ziac.

- Coelhos? — interrogou-se.

- É só uma expressão terrestre. — explicou Ziac.

- Ah, bom! — relaxou Skellt, para depois fazer um comentário bastante acido: - Desde que assistiu às transmissões terrestres seu linguajar ficou uma porcaria. Sabia disso?

- Ora, Skellt, eu só assimilei um pouco da cultura. Afinal eles são civilizados. — disse Ziac, justificando o seu comportamento.

- Sei. — afirmou em tom de deboche. – E não tirou o olho das fêmeas quando apareciam nuas.

- Deixa disso, Skellt! Meu interesse é só anatômico. — justificou-se novamente.

Ziac e Skellt se mantiveram calados por um instante, quando Ziac recomendou:

- Sabe Skellt! Lá na Terra existe um ditado, que diz assim: O que acontece em Vegas fica em Vegas!

- E eu com isso? — estranhou a frase dita pelo parceiro.

- Para o caso de algo dar tremendamente errado. — falou, prevenindo-o de qualquer mau agouro.

- Tudo bem. — concordou Skellt, resumindo tudo depois para deixar bem claro: - Você não quer contar a ninguém aonde vamos conseguir nosso campeão, se o pegarmos pra valer, é lógico!

- Bem entendido! — pronunciou Ziac olhando firme para o negrume do espaço. E certo do destino a tomar, aperta o botão de ignição do motor.

Um clarão do lado de fora ilumina a cabine quando a nave dá o bote para zarpar de vez dali.

A ÚLTIMA APARIÇÃO DO BORRÃO

Um ano depois de o Borrão expulsar Apokolips do céu da Terra.

Louis Lane, a repórter do Planeta Diário, estava de volta a Metrópolis, trabalhando como freelance para a rede de televisão local para cobrir a inauguração do parque publico erigido em memória aos civis mortos nos arredores da usina geotérmica da Lexcorp, que foi destruída durante a luta contra Doomsday.

Ela dá inicio à reportagem na via do jardim em torno do parque cimentado.

- Hoje a prefeitura de Metrópolis inaugura o mausoléu onde estão inscritos os nomes de todos aqueles que pereceram na noite do apocalipse anos atrás. Todos se lembram do infame Doomsday e o que ele fez com a cidade. Mas graças à intervenção da Liga da Justiça, o monstro foi derrotado e enterrado debaixo do solo, dentro de uma cela feita da mais resistente superliga de aço produzida pelo laboratório Cadmus. — e lembra emocionada. – Naquela noite pessoas desesperadas foram salvas pelo Borrão, assim como ele fez meses atrás ao derrotar Darkseid e afastar o mundo de Apokolips para bem longe, e o destruindo quando ultrapassou os limites do sistema solar. E esse herói anônimo, e último filho de Kripton, também vai receber uma distinta homenagem pelos seus feitos heroicos com aquela estatua ali. — Louis apontou para o monumento erguido por escultores renomados no meio do pátio de concreto. – Sou Louis Lane, repórter do Planeta Diário, fazendo a cobertura ao vivo deste evento pelo canal a cabo CNM.

Ela mal terminou de falar e o diretor da equipe de televisão lhe disse orgulhoso.

- Okay! Você ficou bem fotogênica, Louis. Eu queria tanto coloca-la no nosso jornal. — papeou ela, mostrando interesse em seu crescimento profissional.

- Perry White insiste nessa transferência, mas não vou sem o Clark. — titubeou, pois ela amava Clark mais que o premio pulitzer.

- Claro, Clark Kent, o seu namorado. — falou lisonjeiro e achou melhor pensar no assunto. – Temos vários casais que deram certo como ancoras no jornalismo, por que não tentar com vocês dois, não é mesmo?

- É. Assim eu me sentiria melhor. — disse Louis, quase não acreditando na possibilidade real de fazer jornalismo na televisão.

- Vou falar com os patrocinadores. Depois eu te ligo! — prometeu o diretor, mas quando olhava por cima do ombro da moça viu algo inusitado. – Espere! Aquela estátua se mexeu? — alegou duvidando da sua boa visão.

Louis virou-se para olhar também, mas a estatua parecia no lugar, porém, inclinou um pouco criando algumas rachaduras em volta que se alastraram pelo piso do pátio, e mais além, até o monumento dar sinais de que ia desabar.

- Meu Deus! O que está acontecendo aqui. — ela pensou em voz alta.

- Vamos gravar isso! — disse o diretor de reportagem à pessoa com a câmara. – Que furo de reportagem!

De repente, longas placas se levantam no local das rachaduras no concreto e expandem, deixando uma fenda por onde escapa o urro de uma fera com muita raiva.

Imediatamente Louis pressente que precisará de ajuda. Ela troca rápido o microfone pelo celular, morrendo de medo de não sobrar tempo para avisar quem podia vir ao seu socorro. Digitou uma mensagem e a enviou para Clark: Venha depressa! Doomsday está solto. E se assusta quando vê o abominável monstro dos seus pesadelos saindo de dentro da fenda, porém, o acha um pouco diferente de como se lembrava.

- Aquele é o Apocalipse! — berrou o diretor, recuando com a sua equipe, exceto o cameraman, que dava continuidade à gravação das imagens.

A criatura havia mudado de aparência, pois estava mais alta e esverdeada. Isso aconteceu durante a breve estada de Apokolips na orbita da Terra, quando bósons estranhos provenientes dos motores de plasma bombardearam a atmosfera e deram inicio a mutação.

Louis encostou as costas na lateral do furgão da equipe técnica, segurando o celular na mão e rezando para seu herói aparecer logo.

- Clark! — pronuncia aterrorizada.

A força policial nas imediações entrou no pátio com as viaturas realizando o cerco à criatura para contê-la utilizando rifles com balas de grosso calibre. Contudo, a ação se mostrou infrutífera e a criatura esmagou todo mundo que estava atirando nela, aproveitando da fúria para remover a barragem de carros no seu caminho. E após acabar com a resistência, examinava a sua volta para ver se vinham mais policiais quando acaba reconhecendo Louis de longe. A lembrança dela o faz saltar instintivamente em sua direção.

- Oh, meu Deus! Não o deixe colocar as mãos em mim! — pediu horrorizada, fechando os olhos e colocando as mãos em frente ao rosto para não ver o que ia lhe acontecer.

Contudo, antes de Apocalipse pegar Louis, um borrão vermelho e azul cruza veloz a frente dela e retira o monstro de cena, permitindo apenas a suave brisa provocada pelo deslocamento de ar tocar sua amada.

Louis procura olhar em redor, e agradecida enxerga o rastro do borrão dirigindo-se para o interior, supostamente para uma cidadezinha bem conhecida.

- Louis, você está bem? — perguntou-lhe o diretor da equipe, voltando com os técnicos para juntar os equipamentos e retornar à sede da emissora para editar tudo.

Ela fez um sinal afirmativo com a cabeça, depois gritou para o diretor:

- Arrume um helicóptero, e depressa!

Um borrão vermelho, azul e verde escuro cortou o céu sobre a área rural de Pequenopolis e caiu nos arredores das cavernas Kawatche, abrindo uma cratera bem funda no mesmo local aonde o antigo portal kriptoniano foi soterrado com a gruta indígena.

Após a última chuva de meteoros o acesso à caverna tornou-se impossível, no entanto, o portal usado para visitas à fortaleza no polo norte podia ser ativado. Contando com isso, Clark e Jor-El achavam possível encarcerar Apocalipse restabelecendo contato com o antigo laboratório de Jor-El em Kripton, cujos equipamentos, apesar dos anos, ainda se achavam intactos nos escombros do planeta.

Logo após a queda uma serie de abalos ocorreu no subsolo, cujos fortes solavancos mexeram com as arvores a certa distancia, seguido do grito de alguém vindo do fundo do buraco.

- Agora Jor-El! Abra o Portal!

Nem bem a frase foi pronunciada, um vulto vermelho e azul foi arremessado para fora, indo parar bem alto, ganhando estabilidade ao agitar os braços.

Saindo de dentro da boca da cratera, a criatura cinza-esverdeada, possuidora de ponteiras ósseas afiadíssimas pelo corpo, fica em pé, urrando para o ser endeusado no céu quando este avança velozmente, pousando junto ao horrível monstro para trocar sopapos.

Apocalipse e Clark ficaram assim, um dando soco no outro por mais de duas horas, travando uma luta de força bruta, com Clark atacando e sendo apunhalado pelos espinhos de Apocalipse, até um deles fraquejar ao exaurir todas as suas forças.

Nisto surgiu no céu o helicóptero de reportagem da CDM, aonde Louis não escondia dos telespectadores sua preocupação em relação ao herói enquanto o cameraman filmava o cenário de terror.

- Estamos ao vivo do subúrbio de Pequenopolis, onde o Borrão trava intenso combate corpo a corpo com o monstro conhecido por Apocalipse. Desde sua aparição no cento de Metrópolis todos se perguntavam como foi que a criatura escapou da prisão? E soubemos através da Torre de Vigilância da Liga da Justiça que o campo gravitacional de Apokolips destravou a caixa de aço que mantinha a fera prisioneira. — pausou ao assistir os dois titãs caírem um para cada lado e levantarem de novo. - Notem que Cla... , digo, o Borrão, já está há mais de duas horas ostentando a luta para deter a criatura sem expor a população, mas encontra dificuldade para coloca-la a nocaute. É difícil predizer quando isso vai acontecer. Por sorte, o Borrão tem uma

fonte inesgotável de energia, que é o nosso Sol. – de repente ela se cala. – Esperem! Eles estão se pegando de novo.

Apocalipse agarrara os punhos de Clark e os segurava firme, tentando torcê-los para baixo.

- Jor-El! — Clark chamou pelo pai. – Preciso de ajuda aqui!

- Filho! Apocalipse está mais forte.

- E o que devo fazer?

- Sua herança kriptoniana o faz refém da energia em suas células, deve ser rápido.

- Mas ele não depende do Sol, já que absorveu kriptonita. — pensou melhor e deduziu: - Então ele não precisa acumular energia..., e é tão indestrutível quanto eu. — imediatamente desperta a centelha em seus olhos, que ficam avermelhados e deles saem rajadas de calor contra o peito do monstro.

- O que está fazendo é perigoso. — alertou-o Jor-El.

- Eu tenho de fazer alguma coisa pai. — retrucou Clark.

- Coloque-o no Portal, meu filho! Eu o enviarei de volta a Kripton.

Louis cobriu a visão para poder continuar a transmitir a emocionante luta ao vivo.

- O Borrão usa agora a visão de calor para ferir o monstro. Um calor de derreter chumbo está calcinando as redondezas, mas o monstro continua em pé, sem dar sinal de que vá cair.

De repente, Clark interrompe o ataque e desaba inconsciente, dependendo das mãos da criatura o segurando para não ir ao chão. Apocalipse o levantou e balançou-o um pouco para saber se estava realmente desacordado, depois o jogou com força no chão, mas não o soltou de vez, rebatendo duas, três vezes, antes de largá-lo e sair vitorioso.

- Não pode ser. O Borrão..., não..., ele não pode... – Louis caia em lagrimas ao tentar narrar uma cena da qual acreditava ser impossível de acontecer. – Ele parece estar morto! — disse, depois de se recompor. – O Borrão..., ele usou todo o seu poder..., mas o monstro foi mais forte. Não dá para saber daqui se o herói apenas desmaiou.

O cameraman muda de ângulo rapidamente ao passo que blindados avançavam pelo terreno em brasa, cobrindo distancia suficiente para ajustar o alcance das armas e dissuadir a criatura a se entregar.

- O general Lane está no comando da equipe do exercito, e se prepara para a retaliação. — a voz de Louis acompanhava a cena transmitida através da câmara.

Apocalipse percebeu os tanques aproximando e sai para o confronto, abandonando o corpo de Clark estendido no chão, debaixo do tiroteio proporcionado pelas tropas do exercito, devidamente armada pelo Complexo Cadmus. Mas a fera era resistente a quase tudo, de balas cinéticas aos explosivos de fusão, nada adiantava. O General Lane, pesaroso, ordenou um ataque suicida com os tanques com o intuito de atropelar Apocalipse. Contudo, os veículos são destroçados com facilidade, impondo pesadas baixas entre os soldados.

Louis narrava toda a tragédia do ar.

- O exercito contra atacou com tudo o que tem. — começou a transmissão ao vivo seguindo o movimento das tropas. - Mas nem as armas de alta tecnologia fornecidas pelo laboratório Cadmus são capazes de causar mal à criatura. — ela assiste a demolição de mais blindados, e desabafa: - Estamos assistindo a extinção da raça humana. A criatura, Apocalipse, já exterminou com todos onde esteve, e aqui, pelo visto, não será diferente.

E um golpe de sorte muda rapidamente o rumo dos acontecimentos quando uma nave veio arrastando-se pelo céu e ficou parada sobre o campo de batalha emitindo sons e luzes com os quais atrai a atenção de Apocalipse.

O piloto do helicóptero é então obrigado a desviar enquanto Louis tombava de lado dizendo aos telespectadores:

- Esperem! Apareceu uma nave, e não é igual aquela vinda de Kripton.

A espaçonave dos recrutadores estava a uns quinhentos metros do solo, acima da cabeça de Apocalipse, que a olhava curioso, grunhindo e bufando inquieto. Os dois ocupantes da nave esperaram concluir a verificação rápida dos indivíduos abaixo, identificando qual deles deveriam trazer para dentro da nave. E ao constatarem a assinatura genética kriptoniana no individuo derrotado, interessaram-se pela criatura, capturando-a em seguida.

Apocalipse, ora grunhia, ora soltava seu urro bestial, enquanto admirava a nave acima da sua cabeça até o raio de teleporte o pegar desprevenido e o ejetar para dentro do bólido. Lá dentro ele fica aprisionado em um tubo de êxtase. Os dois ocupantes da nave conferem o estado de dormência do prisioneiro antes de saírem gargalhando de felicidade.

- O que aconteceu? — Louis se perguntava ao microfone quando a nave dá um giro no ar e aciona os motores, desaparecendo rapidamente dali. – Para onde o levaram? — quis saber, e ainda aturdida ela se recordou que estava ao vivo, e falou seria: - Alguém veio buscar a criatura e a levou antes que fizesse mais estragos. Porém, o Borrão continua imóvel no local do combate.

Equipes da Cruz Vermelha entravam em campo para socorrer os feridos mais graves, inclusive o herói caído. Com o helicóptero de reportagem sobrevoando o local, Louis acompanha os paramédicos usando do equipamento de que dispunham para reanimar o Borrão, entretanto, um a um vão se afastando, dando a entender que o diagnostico parecia ser evidente.

Transtornada, Louis pediu para pousar o helicóptero.

- Desça já esta coisa! Eu quero ir até lá! — berrou para o piloto

O piloto manobrou para descer ao chão suavemente, distante do campo onde o pessoal fazia o atendimento médico. E a mulher desesperada na cabine saiu às pressas, ainda com as hélices levantando poeira do chão, percorrendo o campo de batalha numa corrida para se aninhar perto do herói jogando-se sentada sobre as pernas, juntinho ao corpo combalido. Louis coloca a cabeça de Clark por cima das pernas e afaga os seus cabelos enquanto chorava de tristeza, permitindo há suas lagrimas lavarem o rosto coberto de hematomas, agradecendo ao homem que amava por ele haver resistido até o fim, lamentando sua morte.

- Eu pensava que isso nunca fosse acontecer. Você era tão forte. Não consigo dizer... — então ela se lembra de alguém. – Jor-El! Por que não faz alguma coisa!

Atendendo o seu apelo, Jor-El manifesta-se para Louis em pensamento.

- Eu faria se pudesse, mas Kal-El já passou por tal procedimento e eu jamais poderei repeti-lo. — e Jor-El despediu-se dela: - Sinto muito, Louis. Kal-El se foi para sempre!

- Não..., Clark!...Não! — a repórter labuta incontrolavelmente.

Arrasada, Louis ficou abraçada a cabeça de Clark a espera dos paramédicos da Cruz Vermelha virem da ambulância trazendo o saco preto a ser usado para retirar o corpo do amado herói.

Enquanto isso, no Polo Norte, um edifício constituído de pilastras de gelo começara a desmoronar sobre seu alicerce enterrando o passado do orgulhoso povo de Kripton junto com o ultimo suspiro do habitante amórfico da fortaleza.

Após haver perdido seu único filho Jor-El resolvera desligar tudo para sempre porque não entregaria o conhecimento tecnológico de sua civilização a ninguém daquele mundo hostil, cheio de líderes movidos pela ganância e insensatez. Procedendo assim, embutiu os segredos relativos ao sagrado planeta Kripton no cristal matricial e com o desmantelar das paredes resguardou-o imerso em gelo, sendo que ali só o achariam quando houvesse uma mudança climática radical em todo o planeta. Ou talvez num futuro distante outro filho de Kripton encontre o caminho da Terra.

O FIM DO HEROI...

...E O COMEÇO DA LENDA.