Uma faca só lâmina

A João Cabral de Melo Neto

Não se engane

No meu corre-corre

Há um espaço tridimensional

No qual estás desenhado.

Picasso, Braque, Mondigliane

Abandonaram a perspectiva

Eu não.

A velocidade dos automóveis,

A brisa que embala os ipês amarelos,

A faixa arranhada do disco do Pixinguinha,

Até a passividade do arranha-céu cinza

Traz a tua voz, teu sorriso, teus gestos...

Tudo o que foi e não foi, volta em ciclos

Numa perspectiva tão intensa

Que quase consigo tocar, cheirar, sentir.

Se machado e espada te ferem

Uma faca só lâmina, que manuseio todo dia,

Me dilacera as mãos.

Hilda Maia Valentim

Hilda M Valentim
Enviado por Hilda M Valentim em 09/05/2018
Reeditado em 09/05/2018
Código do texto: T6332065
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