RECORDAÇÕES DELE

Tinha seus oitenta, oitenta e poucos anos. O viço, as cores de outrora não mais existiam e sim a alegria e a camaradagem de sempre. A alegria adolescente e o brilho dos olhos amorosos faziam-no como que aos quatorze anos.

Esteve presente nos bons e maus momentos. Passou pelas intempéries da doença, foi curado da última crise e com isto mostrou-se ainda mais alegre, como se os anos para si não houvessem passado a não ser pela aparência.

Encantava a todos quantos cruzavam seu caminho. E no meio do caminho sempre estava, às vezes até sujeito a tropeços sobre seu corpo rechonchudo, ou a pisadas nas pontas dos dedos que fossem. Nada que o desmotivasse a manter-se sempre presente, companheiro, confidente, fiel.

Embora não lhe restassem mais audição nem visão, a grandeza de seu coração percebia as almas ao redor. E lá sempre estava ele, a postos, parecendo entender tudo quanto o rodeava.

Nos últimos dias sentia falta de alguém. Preparava então sua cama ali bem perto da de quem sentia saudades. Não imaginou que partiria antes de sua volta. Não se despediram.

Melhor assim. Deus controla todas as coisas: fôra morar no bosque, em meio aos jardins, ao verde, à natureza. Afinal, era filho da natureza.