Sobre Kurt Cobain e o Nirvana

5 abril de 1994. Um jovem de 27 anos, sujo, maltrapilho e desleixado, volta para casa após dois dias perambulamdo por bares e hotéis. Está exausto, envergonhado. O dinheiro acabara. Sua esposa havia bloqueado o cartão.

Em casa, a tristeza e o remorso o corrói por dentro. Fugiu da clínica de reabilitação.

_Como explicar ou justificar à família e amigos o que eu fiz? com que cara vou aparecer a eles? E a imprensa, que dirá? Mais um escândalo para os vermes faturarem. Eu, pai de uma linda bebê, fujo sem dar notícias para ninguém, quebrando a promessa que fiz a todos. Que irresponsável e infeliz eu sou. Indigno de amar e ser amado.

Consumido pela angústia e o remorso, e impotente diante do vício que o consome, cai em profunda depressão. Está sozinho. A chuva e o céu cinzento de Seattle contribuem ainda mais para sombrear a atmosfera mórbida que cerca o jovem. Toma umas pilulas de Valium e injeta um pouco de heroína. A depressão se vai, mas o pensamento suicida permanece. Chora. A fase maníaca de sua bipolaridade começa a dominar sua consciência e direcionar seus pensamentos. Está agitado. Injeta mais uma dose de heroína. Vai à sua coleção de discos. Escolhe um de seus grupos favoritos, o R.E.M. Embalado pelas letras introspectivas da banda, começa pensar no seu passado, na infância feliz e na adolescência conturbada. O pior: pensa no presente e não vê perspectiva de futuro. Desespera-se. Desce as escadas e pega uma folha, uma caneta e uma espingarda. Desse vez, não há mulher, empregada ou amigos para impedir o que há um mês, em Roma, tentou fazer: tirar sua própria vida. Rabisca um texto na folha e, em seguida, injeta uma dose de heroína que certamente o mataria. No entanto, antes que ela o mate, ele mira a espingarda em sua boca e atira sem pestanejar. Três dias depois seu corpo seria encontrado.

Esse foi provavelmente o roteiro das últimas horas de Kurt Cobain, o herói de Seattle e o ídolo de toda uma geração. Alguns criticos citam esse fato para afirmar que o Nirvana não seria o que é se o seu lider não houvesse se matado. Está errado. Vinte quatro anos depois, é o momento de colocar, usando um chavão, "os pingos nos is".

Quando NEVERMIND atingiu as paradas de sucesso de TODO O MUNDO, o Nirvana já era aclamada pela critica e público como a banda da década por ter dado novo fôlego ao mercado fonográfico. Quem viveu a época ou revisou a imprensa daquele período não tinha dúvidas: O Nirvana era a rainha e a BRUXA das bandas. Seu líder, o rockstar sofrido, o coitadinho da mídia. Enquanto esteve na ativa, o NIRVANA arrastou, por três anos seguidos, o título de melhor video alternativo da MTV. O acústico da banda alcançou um dos maiores picos de audiência da emissora. IN ÚTERO, terceiro álbum de estúdio, alcançou o primeiro lugar na Billboard logo na primeira semana de lançamento. É evidente que o suicídio de Kurt Cobain contribuiu, de certo modo, para petrificar a imagem da banda e imprimir uma certa áurea ao Nirvana. Mas isso pouco significou diante do que a banda já havia conquistado e legado para sua geração.

Se há algo realmente superstimado na história do Nirvana não é o talento de seu mentor, muito menos a qualidade musical da banda, mas o próprio suicídio de Kurt. Ele não tem tanto significado para a banda como alguns críticos, mal informados ou de má-fe, apregoam. O Nirvana já tinha imprimido sua marca na história quando Nevermind desbancou Dangerous.

Paz, amor e empatia.