Porque será?

Porque será que os poetas brasileiros andam meio esquecidos.

Aqui fica a minha homenagem a Alvares de Azevedo,usando com mestria a língua comum, nos deixou o poema que segue. Desânimo.

Estou agora triste. Há nesta vida

Páginas torvas que se não apagam,

Nódoas que não se lavam… se esquecê-las

De todo não é dado a quem padece…

Ao menos resta ao sonhador consolo

No imaginar dos sonhos de mancebo!

Oh! voltai uma vez! eu sofro tanto!

Meus sonhos, consolai-me! distraí-me!

Anjos das ilusões, as asas brancas

As névoas puras, que outro sol matiza.

Abri ante meus olhos que abraseiam

E lágrimas não tem que a dor do peito

Transbordem um momento…

E tu, imagem,

Ilusão de mulher, querido sonho,

Na hora derradeira, vem sentar-te,

Pensativa e saudosa no meu leito!

O que sofres? que dor desconhecida

Inunda de palor teu rosto virgem?

Por que tu’alma dobra taciturna,

Como um lírio a um bafo d’infortúnio?

Por que tão melancólica suspiras?

Ilusão, ideal, a ti meus sonhos,

Como os cantos a Deus se erguem gemendo!

Por ti meu pobre coração palpita…

Eu sofro tanto! meus exaustos dias

Não sei por que logo ao nascer manchou-os

De negra profecia um Deus irado.

Outros meu fado invejam… Que loucura!

Que valem as ridículas vaidades

De uma vida opulenta, os falsos mimos

De gente que não ama? Até o gênio

Que Deus lançou-me à doentia fronte,

Qual semente perdida num rochedo,

Tudo isso que vale, se padeço!

Nessas horas talvez em mim não pensas:

Pousas sombria a desmaiada face

Na doce mão e pendes-te sonhando

No teu mundo ideal de fantasia…

Se meu orgulho, que fraqueia agora,

Pudesse crer que ao pobre desditoso

Sagravas uma idéia, uma saudade…

Eu seria um instante venturoso!

Mas não… ali no baile fascinante,

Na alegria brutal da noite ardente,

No sorriso ebrioso e tresloucado

Daqueles homens que, pra rir um pouco,

Encobrem sob a máscara o semblante,

Tu não pensas em mim. Na tua idéia

Se minha imagem retratou-se um dia

Foi como a estrela peregrina e pálida

Sobre a face de um lago…

Álvares de Azevedo

Quo Vadis
Enviado por Quo Vadis em 05/07/2018
Código do texto: T6382414
Classificação de conteúdo: seguro