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O texto abaixo é uma homenagem a alguém que contou parte da sua vida para o papel, falou da sua fase maravilhosa, de cinquentenária, mas que guardou tudo para si.   



Cinquenta anos e Mil experiências



Lutar com as palavras é a luta mais vã.” – Drummond de Andrade

 

Falar de si próprio parece coisa fácil. No entanto, fácil mesmo é nada dizer. Não me lembro do dia em que nasci. É uma pena! Mas parece existir um propósito nisso tudo. Porque (a meu ver) lá em cima existe um Senhor que registra e controla tudo para nós – do início ao fim – do fim ao início. E se não nos é dada a capacidade de contarmos sobre o nosso fim, por que, então, deveríamos contar sobre o começo? Parece algo injusto.
 
Só sei tudo o que sei, porque alguém me contou. Disseram-me que nasci numa tarde de inverno, no mês de julho. E isso aconteceu em meio a pequenas montanhas, num local denominado Fazenda Caldeirão dos Medrados, numa região que faz parte da Bacia do Rio Itapicuru. Demo
rei-me alguns anos para me dar conta de toda a beleza desse lugar: da riqueza da sua flora e da sua fauna. Precisou a distância me reaproximar, para que eu tivesse a certeza de que tudo aquilo me fazia muito bem e ainda faz.
 
Era a infância que toda criança precisava viver. Eu cantava como cantam as cigarras, corria quase com a velocidade dos preás, cavalgava como se fosse a melhor amazona, caía e levantava num piscar de olhos. Coisas essas que hoje já não faço tão bem assim. E amava tanto aqueles peixes que meu pai pescava, juntamente com meus irmãos, que era um sofrimento vê-los se debatendo nas redes nos tempos das grandes pescarias. Tinha, naquele habitat, uma sonoridade ímpar: o cantar dos pássaros, o ruminar das cabras, o mugir dos bois, o ranger das porteiras, o cantar dos grilos, o coaxar dos sapos e, o mais excitante para uma criança, o “chuá-chuá” do riacho bem próximo ao terreiro da casa. Naquele ambiente harmônico, projetado pelo Arquiteto Maior (Deus), o som superava o de qualquer orquestra sinfônica sobre os palcos de concreto, que os homens inventaram para se distrair.
 
Hoje, ainda tenho em mente a “conversa” das rolinhas. Ainda tenho em mente a preparação para a minha primeira fotografia feita com a máquina do meu tio, que fora comprada na Terra da Garoa (Sampa). Naquele dia, a minha mãe cheia de cuidados excessivos, chegou a retocar o meu penteado (à base de óleo parisiense) várias vezes: sempre molhando os meus pequenos cachos, que o vento teimava em desfazê-los, num 'lavatório' que era constituído por duas bacias esmaltadas brancas, cuja primeira era destinada a receber as mãos ensaboadas; a segunda, apenas para fazer o enxágue dessas.
 
Quanto à pose para a tal foto (não tinha jeito), a minha posição não era a das melhores. Sempre cabisbaixa. Parecia que, no meu íntimo, já havia um sinal de reprovação para com algumas coisas que faziam parte da vida humana aqui na Terra. Porém, com o passar do tempo, a vida nos conduz a novos desafios e vai nos moldando, a ponto de 'sozinhos' podermos levantar a cabeça e mudar de posição, de rumo,  através de ensinamentos que nos chegam no dia a dia.
 
O bom mesmo é que há coisas que fizemos quando criança, e no período da adolescência, e que continuamos a fazê-las durante a fase adulta. Por exemplo:  contar as estrelas, namorar os astros, ou, simplesmente, se encantar com o brilho da lua. São coisas que devemos pedir a Deus que nunca nos tire o direito de fazê-las; pois nenhum curso acadêmico traz em sua grade matéria alguma que seja capaz de nos levar à felicidade por nada. Tudo nos leva a crer que só a natureza sabe onde fica a trilha da felicidade.
 
E, por falar em felicidade, passei anos e mais anos da minha vida sonhando com a chegada da Era 2000 – acreditando numa “felicidade geral”. É que minha mãe dizia, ao ler a Bíblia para nós, que seria tudo diferente a partir dali. Não é que minha mãe tinha razão! O Novo Milênio trouxe mudanças significativas para o mundo como um todo. E eu tive a oportunidade de viver bons e maus momentos, e de aprimorar o meu Eu. Também pude me dar conta do meu papel perante o mundo. Por conta deste meu jeito de viver, sonhei e dessonhei; amei e desamei e ainda acredito no poder do amor...
 
Quanto à comemoração dos meus 50 anos, cheguei a escolher o "palco" para a apresentação, escolhi as músicas, selecionei os(as) amigos(as), a ponto de dançar (no imaginário) com aquele cuja afeição me era maior. E, em outro momento, até dialoguei com os filósofos gregos quando me vi prestes a “visitá-los” na Grécia.   No entanto, tudo não passou de um sonho. E Deus é tão maravilhoso que nos dá essa possibilidade (ilimitada) de viver os sonhos. Talvez por Ele saber que o melhor para nós não está na “realidade” programada por nós, mas no tempo reservado por Ele.
 
Hoje, devo agradecer a Deus pelo traçado que ele deu a minha vida. Hoje, eu não só conto as estrelas e namoro os astros; hoje eu conto, também, as minhas experiências. E nelas há rastros de muitas ESTRELAS que me iluminaram. E que, na posição de FAROL, me conduziram pela melhor rota, me mostrando onde se localizava o 'Forte', fazendo de mim a própria Fortaleza para que eu não me perdesse de mim. Foi assim que passei a valorizar mais as pessoas que passaram e passam pela minha vida. Foi assim que passei a cultivar as verdadeiras amizades.
 
Afinal, nenhum coração bate sozinho.




Imagem: Internet.