Querido irmão! (Uma homenagem ao professor Frank Wagner Alves de Carvalho)

“Quem é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode até ser que morra de repente. Mas morrerá em pleno voo...”

Rubem Alves

Querido irmão!

Era assim, Wagner, que você iniciava todos os e-mails endereçados a mim. Você nunca falava o meu nome, somente me chamava de “irmão”. A nossa irmandade se iniciou em junho de 2011, quando nos conhecemos, e durará para sempre, apesar do duro golpe neste tenebroso 16 de agosto de 2018, quando sua presença física deixa de ser uma realidade neste mundo. O meu momento é de perplexidade, de profunda tristeza, de superlativa dor, e sobretudo, de medo. Seguramente, este dia é o 11 de setembro da minha vida.

Aprendi muito com você, o maior intelectual que conheci, o melhor ser humano que convivi. O carinho que você tratava os semelhantes, notadamente os mais simples, o fino trato com garçons, garis, mendigos, pessoal terceirizado do IFPB, entre outros, era algo de uma cristandade exponencial, louvável. Nem parecia que possuía o título de Doutor. Não se comportava como tal. Você era uma fortaleza que irradiava confiança, paz, bondade, pureza, educação, serenidade, amor, alto astral...

Possuíamos uma forte e ditosa identificação. Lembro-me bem do dia em que você lamentou porque não éramos amigos desde a infância. Confesso que fiquei bastante emocionado. Quis o destino que somente nos conhecêssemos em 2011. Foram 7 anos e 2 meses de uma amizade fraterna, sincera, que logo se estendeu para as nossas famílias. Você sempre dizia que formávamos uma única família. Você tratava carinhosamente os meus pais como sendo os seus pais, sempre pedindo a bênção a eles, com uma sinceridade espantosa.

Tudo em você parecia perfeito. A paixão exacerbada pela família. O amor sem limites por Seu Nildo e Dona Marlene, seu pais - algo transcendental, divino até. A terna cumplicidade com Aparecida, o carinho paternal com Amanda e Alice. A sagrada dedicação à paróquia de São Gonçalo, a participação nos cânticos, o suave som do seu teclado, as sublimes palestras, o forte apego às pessoas da comunidade...

Quantos momentos felizes juntos com as nossas famílias: em nossas casas, no bistrô, na pizzaria, em São Gonçalo e até no Iguatu. Sem falar do convívio diário no IFPB. Escrevi maravilhosos livros com a sua indispensável ajuda. Entrei de cara na literatura graças ao seu apoio incondicional. E nas cerimônias de lançamento, lá estava você, impecável, como mestre de cerimônia, conduzindo o evento e proferindo discursos de encher os olhos, dando shows.

Meu eterno revisor literário, todas as minhas obras possuem a sua cara, a sua marca. Tínhamos tantos planos: um livro em parceria de reflexões poéticas e filosóficas; um reencontro familiar no próximo natal em Iguatu; mais uns trinta anos de amizade...

Mas o destino, de forma implacável, arrancou-lhe abruptamente do nosso seio. Não é fácil acreditar, muito difícil entender e impossível explicar. Sentiremos profundas saudades do seu senso de humor, do seu companheirismo, do seu humanismo. Um vazio colossal que nunca será preenchido. Sem exageros, o meu mundo não é mais o mesmo, entristeceu. Como esquecer as águas de coco, os programas na rádio educativa, as nossas entrevistas nas rádios de Sousa, as alegres caminhadas na praça da matriz – em que você parava para cumprimentar garis e policiais em serviço, as pizzas na casa de Bolinha e Sheila, o baião no bar de Edésio, os seus telefonemas noturnos...

Fica o consolo da maravilhosa convivência. Como dizia o grande Doutor da Igreja Católica Romana, Aurelius Augustinos Hipponensis, conhecido universalmente como Santo Agostinho de Hipona, que viveu entre os anos 354 e 430, “a angústia de ter perdido não supera a alegria de um dia ter possuído”.

Descanse em paz, meu irmão!

Josemar Alves Soares
Enviado por Josemar Alves Soares em 26/08/2018
Reeditado em 20/07/2022
Código do texto: T6430801
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