CARTA AO SETENTÃO

SETENTÃO

Existem cartas que são escritas para que sejam lidas após a morte - Cartas de despedida – a minha, não! A minha quero que você a leia em vida. Não se trata de uma carta de herança, onde se escrevem: “..Para fulano deixo isso”, “...para sicrano, aquilo...”. A minha, não! Não tenho nenhum bem material para deixar a ninguém, só espiritual, o do coração.

Nele há razões e sentimentos que dinheiro nenhum pode pagar: gratidão! Sou grato a você, meu irmão, por ter ensinado-me o caminho da retidão, cujo qual trilho com suor, lágrima e muita dedicação. Meus joelhos encalecidos já não conseguem dobrar-se em oração.

Minha vida resume-se aos estudos e a perseverança de um dia voltar a ser o homem que me semearas no passado. Guardo todas as sementes que tu plantaras em minh'alma. Hei de carregá-las para sempre!

Hoje, em seu aniversário, lembrei-me de todos os anos que passamos juntos, quando ainda era “SEU GAROTÃO”.

Fizeras a minha pobre infância mais alegre:

Foste tu que me deras o primeiro “fusquinha”, onde eu, todo animado e feliz, fazia estradas na areia.

Foste tu que me deras a primeira peça debaixo, até então não sabia o que era usar uma. (risos).

Foste tu que deixaras de jantar para que eu não sentisse fome.

Foste tu que me emprestaras dinheiro para “dar uma volta na praça”.

Deves lembrar-se de tudo, não?

E com o passar do tempo sinto que:

Cada dia tu estás mais distante,

Cada noite mais ausente,

Cada ano mais idoso,

Cada momento mais generoso.

Cada instante mais alheio,

Cada olhar mais decente,

Cada trago menos fumante.

Cada encontro, mais estranho, mais sofrido,

Cada vez mais dolorido,

Menos parente, mais irmão,

Cada gole o distrai.

Enfim, sejas mais ou sejas menos,

O que mais importa é que não sejas menos

Onde podias ser mais... Meu Pai.

Adécio de Sousa
Enviado por Adécio de Sousa em 01/09/2018
Reeditado em 21/01/2019
Código do texto: T6436796
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