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A Sagração da Primavera
 
                             
Quero sustar a vida do grão ao universo
Amar os vales e ser um desvalido
E tomar da lua o seu comprimido,
E perder a paz, mas nunca o meu verso
 
Ganhar para perder a flor do sentido
No abrasar intenso dum vulcão raivoso
Engolindo deuses deste chão que eu pouso.
O que farão do amor que não foi ungido?
 
Vão-se os buquês desta terra em gozo
Decorar castelos, mausoléus e altares,
Enquanto sopram ventos a desviar olhares
Da coruja atenta e pensar majestoso
 
Seremos flores mortas singrando altos mares...
Seremos, outrossim, desertos de cactos...
E quem escreverá em nossas folhas os fatos?
Talvez as borboletas bailando pelos ares
 
Terra, abençoados sejam os seus atos!
Que os rios possam ser rios após o anoitecer!
E que o dom da sagração comece em você,
Na rosa-de-jericó ou no texto de Pilatos.



Imagem: Internet.