Jorge um Brasileiro?

Jorge um Brasileiro?

Quando meu professor Lua Rasta viajou fiquei sem pai e logo depois Bebeto Monsueto meu amigo, enlouquecido de amor se mandou para a Argentina atrás de sua princesa, fiquei sem pai nem mãe!

Aí o Posto 9 em Ipanema já não era mais o mesmo, ficou sem sal. Embora a contra gosto tive que voltar a frequentar a praia da Siqueira Campos, oque desagradou meu mano, envolvido que era com os amigos do local.

Meu estilo Hippye demais o incomodava. Mesmo assim continuei frequentando-a até que conheci Jorge. Ele sempre estivera ali, eu via mas não enxergava. Oque me chamou atenção para sua pessoa, foi seus desenhos de super heróis magníficos.

O tempo que fiquei ao seu lado, (uns 2 meses) Jorge foi sempre o mesmo. Negro, negríssimo, aparentava entre 15/18 anos, sempre sem camisa e com o mesmo short, tinha um sorriso cativante que irradiava felicidade embora tenha sorrido pouquíssimas vezes.

Era paraplégico e sua cadeira de rodas só tinha uma lona como assento, sem espuma, nenhum conforto. Nunca me reclamou disso, depois de um tempo passou a temer os pivetes, pois escondiam maconha na sua cadeira, e ele magro, esquelético, não tinha como impedir. Estranhamente, dormia e morava na entrada principal de um edifício a beira mar, Av Atlântica, que por sorte do seu negro destino, não era usada pelos moradores.

Pensei em levar seus lindos desenhos para um radialista no intuito de lhe conseguir um abrigo, protegendo-o da terrível maresia das tardes/noites dos dias chuvosos. Pensar é uma coisa, fazer é que são elas. Mas ele tinha um sonho, sonho besta por sinal, fácil de concretizar, mas o medo dele era maior:

Queria tomar um banho de mar!

Embora não cheirasse mal, desconfiava que banho só de chuva. Me propus a realiza-lo, mas ele continuava reticente:

Sem mexer as pernas e terrívelmente mal alimentado, (nunca o vi comer) não tinha braços para nadar. Eu descia para a praia logo depois do almoço, 13:30/14:00, batia um papo com ele antes de entrar na areia.

Nesse dia estava 40 graus á sombra e eu doido para dar um mergulho. Convidei e ele topou. Levei a cadeira até o calçadão

Peguei-o no colo, (pesava uns 30 quilos) e corri os 100 metros até a beira dágua. Mesmo lá a areia estava quente, arriei-o e deve ter se queimado um pouco, cavei desesperadamente uma banheira na areia aonde a onda chegava com um palmo ou 2 de altura e corri para busca-lo.

Que maravilha vê-lo e se esbaldando naquela espuma aquosa. O problema problemático é que ele tomando banho de espuma, tomava também de areia e se o mar tem sal, deve estar na espuma. Depois de umas 3 horas convenci-o a sair.

No cabelo estilo black dava para ver centenas de grãos de areia, o pior foi o sal que transformou meu amigo numa zebra. Se ele não tomasse banho de água doce ia ser comido vivo pela salmoura.

Nesta altura do campeonato Bebeto voltou e eu voltei com ele ao Posto 9 esquecendo por completo meu desvalido amigo. Mas a lição de vida, de esperança, de felicidade ante um futuro tão inóspito, incerto, perigoso por ter que enfrentar os pivetes, ficou, para mim e poucos que puderam conhecer este Herói Brasileiro, tão visto mas não enxergado!

Brasil mostra a sua cara!