Numa das últimas “Mucandas” (msgs rabiscadas) recebidas do Meu  Saudoso Amigo Fernando Cruz Gomes, ele me dizia ter gostado muito do meu poema inspirado na minha subida ao Bairro Alto e de passagem, como sempre, entrei na “ A BRASILEIRA” para tomar a B.I.C.A. com o seu “Chará” Fernando Pessoa – dizia-me o poeta; Beba Isto Com Açucar e, além de tomar a BICA eu bebi na inspiração que ali memorizei num repente, nada mais que num repente!... me veio à memória a análise da minha obra literária quando escrevo sobre Angola: 
O Amigo Fernando Cruz Gomes me dizia isto por outras palavras: 

O Potêncio outra vez a chorar...
 
Não restam dúvidas. Quando o Potêncio escreve – e da forma que o faz – não é ele a escrever.
-Tão pouco o que se vai lendo... se pode ler sem ter, ao lado, um dicionário místico daqueles que têm a ver, tâo sòmente, com o linguajar da Alma que, vindo das terras de África – especialmente Angola, eu sei – deixe entender o simbolismo dos conceitos e o explanar de atitudes.
O Silvino sabe manejar, como poucos, a pena. Aprendeu, talvez, nas escadas íngremes da Leba, à sombra de um ou outro imbondeiro que ainda por lá deixaram, quiçá mesmo a mergulhar os pés na água do riacho ou do mar... que une as Pátrias sem as escravizar. Portugal. Brasil. Angola. Por que não o Canadá, também?!
A verdade é que os tais “retornados” – e muitos nem “retornados” podem ser porque só se “retorna” onde já se esteve – criaram uma forma de ser muito sui generis. Entendem a alma dos outros e só pedem que lhe entendam a sua. Nivelam pelos seus os conceitos dos outros, entristecendo-se, de morte, quando entendem que... mais uma vez os enganaram.
E é por isso que eu entendo cada vez mais o Silvino Potêncio. Mesmo que ele diga que não, ele escreve a chorar. Mesmo que queira fazer rir, que se anarfanhe para ninguém lhe ver as lágrimas... ele está mesmo a chorar. Um passado que se foi?! – Decerto. Mas chora, também, um Futuro que... assim... é capaz de o deixar de ser.
Deixem o Silvino chorar. As suas lágrimas juntam-se às de muitos outros, espalhados pelo mundo...  Pode ser que façam um mar. Um mar só nosso. Que nos una a todos. Mesmo àqueles que da lei da morte se foram libertando.
Olá, Silvino! Eu também choro... sabe?! Só não tenho – não consigo ter – a sua habilidade de amarfanhar os sentimentos. E tentar que pareçam sorrisos... as tristezas de uma alma que é igual à sua.
- Fernando Cruz Gomes - Toronto

Hoje em Homengem Póstuma ao Meu Saudoso Amigo Fernando Cruz Gomes - Fundador do Jornal ABC de Toronto - Canadá, eu vos trago um poema meu que ele me tinha solicitado para divulgação e uma possível adaptação musical. 
Eu fui conversar com o Poeta em Pessoa!...
 
Eu fui conversar com o Poeta,
Que me recebeu já sentado.
Pedimos uma "bica curta"
E lá me sentei ao seu lado
... Falámos de tudo um pouco
Ali na Calçada do Chiado!
Foi ele que me convidou
E pelo muito que me escutou...
Saí de lá inspirado a subir ao Bairro Alto.
Com o coração na boca,
Subi bem devagarinho...
Porque os anos já me pesam de mansinho,
Cantei o fado baixinho,
Como ele talvez o tenha feito
Ao gravar esta saudade no peito
De quem ama a poesia,
O sonho de sentir alegria
E o desejo de viver na Lusofonia.
Depois da conversa acabada,
A Alma ficou mais lavada,
E eu desci pela calçada...
A pensar com os meus botões,
O Mestre não disse nada...
Só me mostrou reflexões
Das cores do nosso sentir!...
Do tempo que ainda há-de vir
Do passado que já se foi,
Do presente que agora doi...
Do Futuro que já nos corroi!
As forças deste térreo viver
Em espírito imaginário...
Deste meu entardecer.
 
(in "POESIAS SOLTAS " De: Silvino Potêncio – 29.05.17)

 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 08/11/2018
Reeditado em 07/01/2019
Código do texto: T6497516
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