Nego Nelson

Franzino, de pequena estatura, bom de bola; nego alfabetizado, menino de futuro, bom partido.

Nos conhecemos no colégio, no primeiro ano ginasial, nós éramos meninos; radiantes, esperançosos por dias melhores. O alerta vindo de nossos pais, nos impelia a agir com seriedade.

Comprometido, nelson, era um negro de altas notas; conceituado perante a classe, orgulhava-se de seus feitos, era promessa para o futuro; fora das aulas, de jaleco branco, já dava suas "consultorias"; era empregado de confiança, em uma farmácia, como administrador ou enfermeiro de tudo um pouco sabia.

Era bom nisso! Todos recorriam ao "Nelsinho".

Época de ouro, a postura das pessoas era muito importante; valia nota! Deviamos, uns aos outros, a demonstração de companheirismo, honestidade e respeito.

Nos colégios, os professores, apresentavam-se no início de suas instruções, eram respeitados, verdadeiros ídolos de nossa infância. Fora de sala de aula, era raro, vê-los com alunos.

Nossas professoras, sem excessos; eram perfeitas; com todo o respeito, o ideal de todo rapaz...

"Billying", desconheciamos, não conhecíamos essa refinada expressão. Vivíamos em outro momento. ...

"Nego nelson", a cada dia surpreendia, a si; e, aos outros; contudo, maior respeito, vinha dos seus, exigentes, professores.

O seu maior dilema era: a conquista de seu espaço, por méritos; ou a falha e o temeroso insucesso...

Voltando, aos saudosos tempos, a vivência ditava as regras, aproximar-se de alguém era difícil, a aproximação era cuidadosa, quando se tratava das mulheres, havia de ser sem alardes, trombetas; pois, se não...

"a pombinha foge!!!", alertava os mais experientes.

Mulheres difíceis... não facilitavam às coisas. Nessa época, homem conquistador, era visto, com reserva, em prova, tanto a teoria como a prática! Mas, o Negro intelectual, preparava-se para surpreender em todos os aspectos e, em qualquer situação.

"Nego"refinado, exigente, às avessas de outros negros, questionava os padrões: Viveu fora de época! contrangia-se cada vez que, educadamente, questionava as regras ou, quando, driblava às expectativas contrárias. Ao ficar sem saída, havia de se auto afirmar.

Sabia das exigências, desse mundo, no qual, avaliava-se, preparava-se para o passo seguinte; verdade seja dita, levava-se a sério as coisas: entre candidatos, busacava-se o equilíbrio das aptidões para qualquer intento.

O respeito era medido, calculado, qualquer deslize, era o fim. Para o candidato ao emprego, para o candidato ao namoro. ..era o fim!

Que diferença! hoje é o saldo em conta que regula as relações; ainda que cause pesar a origem dos recursos.

Mundo exigente, muitas regras! namorar para concretizar os sentimentos, partilhar experiências, criar vínculos; mas quase sempre oculto, e, não revelado, era o desejo de aproximação. Mulheres difíceis!

Só provando-se, habil para saber o seu real valor, e , assim, com a convivência, tanto os homens como a mulheres, estavam à prova. Não testemunhávamos tanta baixaria!

Com o tempo, tudo mudou, em nova fase de vida, Nelson, sabia o seu valor, oficial da marinha, viajou pelo mundo, ganhou corpo, desenvoltura, "nego " só para os mais íntimos.

mas, mesmo, assim, não se sentia correspondido, e, por preconceito, entregou-se a lascívia, e, uma vez na luxúria, envaidecido, julgava estar no melhor dos mundos.

Os tempos mudaram, nessa outra parte da estória, inimputáveis, somente as crianças; usaram da maternidade, vieram os filhos sem as mães, e, como estas, não foram capazes de fazer de Nelsinho, o pai, veio a perseguição cruel. Um dia, vindo de longe, me trouxe paz! atualizamos os papos! disse ter vindo a passeio. Quis rever todos os amigos da escola, um dia inteiro de visitas, um a um, os encontramos, belas memórias de infância. À noite, já em minha casa, relembrou suas andanças. Soubemos dias depois, que na cidade de Manaus, em leito de hospital, aos 48 anos, faleceu, meu amigo de ifância. Nelson, "Nego Nelson" para os íntimos.