518 dias
São lembranças, momentos, recordações...dores!
São 518 dias em 1.
Um dia, um mês, um ano, uma lágrima, uma dor, a pior das dores, arrisco-me dizer.
É vero que eu nunca soube lhe dar com as despedidas, sempre achei um momento muito doloroso. Talvez, por isso demorei 518 dias para escrever sobre você, não queria, não por causa de algo banal ou mesquinho, porém por fazer desse emaranhado de palavras uma despedida e só de pensar em despedir de você meu coração parte em vários pedacinhos. Quando entrei naquele quarto frio, meu abraço quente te aqueceu, seus lábios doces me envolveu e minhas lágrimas escorreu. Só queria te sentir, te ver, te abraçar, estar com você, não só naquele dia, mas em todos e em muitos outros 518 dias. Quando chegou a hora deu partir, estava a chegar na porta, voltei e agora foi a sua vez de me aquecer em teus braços
Nesses 518 dias tentei reinventar, quase forçado a construir meus cacos, minhas ruínas. Deixei ser guiado para o Sul, para o Norte, para o Oeste e para o Leste, viajei para diversos lugares sem sair do lugar, contemplei várias cores sem vê-las, no entanto, cansei...cansei de ser forte, quando estava/estou fraco. Cansei de ouvir que iria passar, que fazia parte da vida, que tudo era um aprendizado, que logo eu me acostumaria com a dor...CANSEI, não queria ouvir, não queria saber ou entender tudo aquilo que estava acontecendo, só queria abraça-la, sentir o cheiro dela, olhar nos olhos dela...saber que estaria comigo. Chega um momento que o casmurro está trincado e não tem mais remendos.
Quanta gente má e insensível cruzou em meu caminho nesse tempo, quantas vezes confundiram meu anseio de morte com meu sorriso? Quantas vezes precisei de uma palavra amiga e recebi palavras ineptas? Quantas vezes procurei refúgio e me colocaram na forca? Sou gente, tenho meus medos! Não abre a boca para dizer o que eu sinto, você não está em meu ser, você não sabe como isso é e mesmo se já tivesse se despedido, somos diferentes um do outro. Logo, meu modo de sentir não é igual ao seu!
São 518 dias pensando em você, tem dias que estou bem, mas tem outros que estou assim...melancólico. Minha única companheira é essa madrugada fria e minhas lembranças de você. Lembra quando apresentei em libras uma música para você no meu quinto ano do fundamental I nos dias da mãe? Você chorou (esse lado manteiga derretida veio de você, choramos até com comercial de TV...Hahahaha). Lembra que quando você estava triste me pedia para te abraçar? Lembra quem tentava me ensinar a dançar um tal de dois pra lá e dois pra cá? Lembra quem me ensinou a ler com meus 4 anos de idade? Lembra quem foi a primeira pessoa a saber que eu faria uma tatuagem? Lembra quem foi a primeira pessoa que me ouviu e chorou comigo (um choro de alívio), me encorajando a sair do meu casulo para ser a linda borboleta que hoje sou? Lembra as vezes que eu não falava para vó que os meninos haviam me batido na escola ou me xingado de "viadinho", mas pra ti eu falava? Mãe, obrigado por sempre estar aqui, mesmo quando muitos falavam que você não estava. Obrigado por acreditar em mim, quando muitos disseram que eu seria a ovelha negra (Ah, talvez eu seja...só um pouquinho. Rsrsrsrs). Hoje, vejo o quanto somos parecidos!
Nunca chorei tanto para escrever, igual eu choro agora. Mamãe, obrigado por ser um exemplo para mim, mesmo não sabendo que foi. Há 530 dias fazíamos planos, que iríamos viver tudo aquilo que não vivemos. Que iríamos passar uma regra nos erros. Saiba que és tu uma grande motivadora para eu continuar nessa sua jornada...você se foi sem saber que eu iria trilhar seus passos, sem saber que iria percorrer os caminhos que foram interditados para você por causa das circunstâncias da vida. Eu te amo eternamente mamãe! Quando eu olho para as estrelas vejo você!
"Só queria que um dia o câncer fosse apenas 1 signo", já escutei isso. Essa frase nunca fez tanto sentido para mim do que nesses 518 dias que você se foi.
09/04/2019
Jorge Barbosa