Nascer de novo

Na Igreja, milhares, em festa. O Festejo é pela saúde daqueles que foram curados.

Ao meu lado, o barraqueiro, então perguntei-lhe:

- Será que alguém sai curado? Será que é verdade?

Atento ao meu pedido, serviu-me uma bebida. De gole em gole, refletindo, eu aguardava o fim da missa... mas, aí, ouvi do barraqueiro:

- “Se há cura eu não sei, mas os anos passam e sempre na mesma data, sem erro! ; é certo! a cidade se enche de vida, com a vinda dos romeiros.”

Em tom crítico, disse-lhe: É apenas histeria!

De pronto, alcançou-me o olhar de quem discorda; e, calado, prosseguiu, em fé muda e inabalável.

Fui intolerante, generalizei, sem exame acurado, desabafei; logo, veio o arrependimento...

E desta feita, sensibilizado, arrependido na dor alheia, me entristeci. Senti a dor sentida, por causa da dor causada. Calado, eu já estava eu errado.

Na fila da graça, o pequeno menino magro, de costelas salientes, ofegante, em torce seca; aguardava o seu milagre, sem saber as causas do seu sofrimento!

Disse-me, então, o barraqueiro:

“Tem na cidade de Sete Lagoas, um curtume, dizem que lá tem um remédio muito bom!.”

"Há três coisas na vida que nunca voltam atrás:

a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida."

E assim, pelo barraqueiro de plantão, veio a oportunidade; sem fé, o desafiei a responder a minha questão:

flecha lançada, palavra pronunciada; restava, somente, a oportunidade, e, ainda, não estava perdida...

Logo cedo segui viagem, e, sozinho, pensei; a fé sem obras é morta! Vou até o fim! Não adianta só rezar....

No curtume... a surpresa, pareceu-me, que eu era aguardado.

Disse-me o funcionário:

“ Ele vai lhe atender! Procure pelo sr. Simão do Curtume, no último prédio da praça.”

Na entrada, em destaque, o belo jardim, quatro andares; não se via as janelas, apenas, os vidros escuros, em contraste com a fachada branca do prédio ; no Hall de entrada, assentos confortáveis; olhei-os , mas desviei o olhar, pois, já no elevador, surpreendido, vi as câmeras, e, logo, ouvi a voz de alguém que supus ser o meu anfitrião.

Ao subir não percebi os limites entre o elevador e a enorme sala, muito bem decorada, em forma de éle, não se via além; a menos que, chegasse ao entroncamento, ao ponto de intersecção ; nessa posição, à vista, estaria o outro canto da sala. Ao fundo, via-se, na parede que se alinhava até o fim de um, e, o início do outro ambiente, lírios brancos, bem abaixo de enorme espelho emoldurado. Na moldura, entalhes e detalhes que lhe conferiam o seu valor. À esquerda deste, o vão de entrada para o outro ambiente da sala, até, então, secreto aos meus olhos.

Assentei-me ao seu lado, e, após o seu questionamento, contei-lhe toda a estória. Sem omissão, disse-lhe:

A doença que aflige o meu sobrinho, trouxe-me aqui. Ontem, na festa de Nossa Senhora, conheci um homem, que nada prometeu, mas, disse-me, ser possível em um curtume encontra a solução. Vim com a esperança de por fim ao sofrimento, não só desse menino, mas de toda sua gente, que de novena em novena, não tem encontrado uma solução.

"O nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito."

Olhou para mim e disse:

” Não costumo atender sem ver o paciente. Contudo, devido às circunstâncias, vou fazer uma exceção, com a condição de que, em breve tempo, o trará até aqui, pois, preciso vê-lo.”

Consenti, e, após, algumas instruções, passou às anotações, e, por fim, em vidro, uma substância leitosa, que ao contrário do que pensei, era para a inalação.

Esperei atento, alguns minutos, durante esse tempo, me detive a apreciar o ambiente. Percebi além, enchi-me de esperança, confiei; a dignidade habitavam ali. Tudo era harmonia, de bom gosto, refletia a prosperidade espiritual de seus donos.

Em meu pensamento, encantado, porém, contido, sem expressar, abertamente, toda a minha admiração. Ali fiquei, até o momento, em que, do outro assento da sala contígua, ao lado, com um aceno, solicitou a minha aproximação.

Mais alguns passos, e puder ver todo o esplendor.

Um nicho, bem trabalhado, recôndito, até, então, ignorado, guardava, uma linda imagem, de tamanho real , bem ornamentada com longos ramos de lírios brancos.

Em segundos, revivi, toda a experiência das últimas horas! Atônito, descrente, me contive, e, ao seu lado, me surpreendi...

Disse-me, então, pausadamente:

“O seu sobrinho será curado! Uma porção em colher de chá. É só inalar todas as manhãs e ao anoitecer.

Lembre-se! Mantenha no gelo para não perder as suas propriedades.”

Agradeci muito a sua presteza, e, ainda, na presença da imagem de Nossa Senhora, aos seus pés, surpreendido, perguntei-lhe sobre a esplendorosa imagem.

Assim, ele respondeu:

“Há! Não se preocupe! Isso é coisa da minha mulher!”

Nascemos, nos dois: eu, e o meu sobrinho, Adriano.

“O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (João 3:8).