Crisálidas

Stella

Já raro e mais escasso

A noite arrasta o manto,

E verte o último pranto

Por todo o vasto espaço.

Tíbio clarão já cora

A tela do horizonte,

E já de sobre o monte

Vem debruçar-se a aurora

À muda e torva irmã,

Dormida de cansaço,

Lá vem tomar o espaço

A virgem da manhã.

Uma por uma, vão

As pálidas estrelas,

E vão, e vão com elas

Teus sonhos, coração.

Mas tu, que o devaneio

Inspiras do poeta,

Não vês que a vaga inquieta

Abre-te o úmido seio?

Vai. Radioso e ardente,

Em breve, o astro do dia,

Rompendo a névoa fria,

Virá do roxo Oriente.

Dos íntimos sonares

Que a noite protegerá,

De tanto que eu verter.

Em lágrimas a pares.

Do amor silencioso.

Místico, doce, puro,

Dos sonhos de futuro,

Da paz, do etéreo gozo,

De tudo nos desperta

Luz de importuno dia;

Do amor que tanto a enchia

Minha alma está deserta.

A virgem da manhã

Já todo o céu domina...

Espero-te, divina,

Espero-te, amanhã.

...

Machado de Assis

Minha homenagem ao ilustre.

Vander Góis
Enviado por Vander Góis em 01/10/2019
Reeditado em 01/10/2019
Código do texto: T6758471
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