Justiça animal

Romeu Prisco

Fala-se, à boca miúda, que o cão é o melhor amigo do homem. De fato, o cão é um grande companheiro do homem, fiel e prestador de serviços, mormente os de guarda doméstica. Todavia, como ele é um animal social, também gosta e necessita da companhia do homem, de quem, aliás, depende, e muito, para sobreviver.

Atualmente, há cães que recebem do homem tratamento como se deste fossem verdadeiros familiares. Para tanto, passaram a freqüentar, periodicamente, clínicas veterinárias, onde são cuidados, vacinados e imunizados contra diversas doenças, "pet shops", onde dispõem de salas para banho, "cabeleireiro" (ou seria "peleireiro"?), rações balanceadas, petiscos e um sem número de apetrechos de lazer e segurança.

Todavia, o que me leva a escrever este texto, nesta Semana Mundial do Animal, que vai de 04 (Dia de São Francisco de Assis, Padroeiro dos animais) a 10 de outubro, é a minha discordância do conceito, segundo o qual "o cão é o melhor amigo do homem". Sempre que ouço ou leio esta frase, ocorre-me a injustiça que se faz com outros animais, principalmente com o cavalo.

Durante séculos o cavalo prestou relevantes serviços ao homem. Até os dias atuais é de grande utilidade. O cavalo serviu, e ainda serve, como meio de transporte, seja na condução do homem sobre o seu lombo, seja para puxar veículos de tração animal. O cavalo foi um precioso aliado do homem nas guerras. Quase todos os exércitos do mundo possuem a arma denominada "cavalaria".

Assisti a um filme norte-americano, baseado em dados reais, extraídos da história do famoso general MacArthur, que, quando Ministro da Guerra dos EUA, determinou, literalmente, o extermínio dos cavalos de uma das unidades do exército daquele pais. Para o general, aqueles cavalos já não tinham mais utilidade e só davam despesas para a sua manutenção.

Pois bem, esse fato causou tal revolta nos soldados da citada unidade, que, sob pena de serem submetidos a processo na corte militar, não hesitaram em descumprir a ordem, levando os cavalos para um lugar onde ficaram a salvo do extermínio e onde poderiam continuar vivendo num "habitat" natural.

Os Jockeys Clubes e as práticas do hipismo, estas inclusive para terapia de pessoas portadoras de deficiência mental, se devem exclusivamente aos cavalos. Mais, muito mais, poderia ser dito do eqüino, para demonstrar que ele, no mínimo, concorre em igualdade de condições com o cão, na disputa pelo título de "melhor amigo do homem".

Nessa disputa, a única vantagem do cão fica por conta do seu porte físico, o que lhe permite, por assim dizer, estar onde o homem estiver. Todavia, nem isso, que dele independe, explica o título com exclusividade. Então, que se faça justiça ao cavalo e mesmo a outros animais, notadamente os da raça bovina.

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