POIS É... O CEARÁ MUDOU MUITO DE LÁ PRA CÁ

Talvez de todas as histórias de meu pai que já publiquei, está será uma das muitas em que ele não será o protagonista, mas sim, o coadjuvante que no final ensinara ao figurante, que sou eu, entender uma conversa de dois cearenses, que quando estão levando um dedo de prosa não precisam de muitos detalhes para entenderem de que se trata o assunto.

Quarenta e nove anos haviam se passado e finalmente seu Valdemar volta a sua terra natal, em um final de tarde, ele e seu cunhado, um senhor já bem cansado pelo tempo, conversavam em um banco, estou presente, mas somente ouvindo o que estão falando. Meu pai em outra ocasião já havia me dito que quando era jovem, trabalhou nas roças deste cunhado e que ele era muito respeitado pois possuía algumas terras e posses. Em algum momento da conversa, meu pai lhe perguntou se ainda plantava roça naquelas terras. Ele então lhe respondeu que não, e em seguida passou a lhe relatar os motivos de ter abandonado a agricultura naquelas terras, disse ele então:

- Valdemar, o Ceará não é mas o mesmo... A coisa mudou muito daquele tempo pra cá, eu até que tentei um tempo desses, mandei uns cabra bom, fazer um barraco para guardar as ferramentas, e pretendia tocar novamente a roça. Mas você não sabe o que aconteceu. Fizemos o barraco em um dia no outro o pessoal roubaram, até os quatro paus que sustentavam o barraco.

Seu Valdemar então lhe perguntou:

- Por que tu não fez como aqueles velhos de antigamente, que colocavam sal grosso nos cartuchos e ficavam na tocaia pra atirar nos ladrões.

Seu cunhado, mas uma vez lhe explica os motivos que lhe levavam a não agir desta forma:

- Valdemar, com o tempo a velhice vai chegando e ficamos fracos pra essas coisas, e mesmo assim, se eu fosse fazer isso, não colocaria sal no cartucho, mas sim uma palanqueta, e tem mas uma, estou muito velho pra passar uma noite de sono depois de atirar em um ladrão.

Meu pai falou meio que timidamente:

- Eu entendo...

E olhando pra mim, me perguntou se eu tinha entendido o que ele quis dizer. - Acho que sim. Respondi.

Seu Valdemar então me falou com uma expressão meio que zangada e debochada:

- Meu filho, você não entendeu foi nada.

E concluiu:

- Ele disse que já está velho e não aguenta uma noite de sono, mas não é por que vai ficar na tocaia esperando o ladrão, ele está falando que não aguenta, por que se ele matar o ladrão terá que passar a noite acordada no velório... Por que o ladrão é um parente

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 24/01/2020
Reeditado em 02/06/2021
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